Nenhum amor deveria ser leviano pelas consequências que ele causa. Mesmo assim os há aos montes. Quando nos envolvemos com alguém seja por desejo, curiosidade, capricho, paixão ou mesmo para dar chances ao amor, estamos interferindo diretamente na vida de uma outra pessoa. E ela na nossa. Isso é inviável.
Quando somos novos, nos entregamos ao amor com a volúpia de quem está descobrindo o paraíso. Dizemos que amaremos para sempre com a ingenuidade de quem ainda nem sabe como é amar. Não creio que haja mentira. Talvez o desconhecimento que precede o descobrir.
Com o passar dos anos, vamos aprendendo que o amor da nossa vida pode estar na próxima relação. E enquanto desenvolvemos a noção do que realmente é bom para nós, vamos nos apaixonando e experimentando. Às vezes temos mais expectativas do que a realidade mostra. Às vezes geramos mais expectativas do que entregamos. Faz parte de viver a experiência do amor. Nessa fase é quase inevitável mentirmos um pouco. Para nós, para o outro.
Com a maturidade, tendemos a nos conhecer melhor. Sabemos melhor – ou deveríamos saber – do que estamos dispostos a abrir mão por uma relação. Aprendemos que o trade off é parte essencial das relações. Às vezes ficamos exigentes demais. Às vezes, o temor da solidão faz cedermos demais.
Entretanto, é nessa fase que já conhecemos as consequências de amar e não ser correspondido. De mentir e fazer o outro sofrer. Mesmo assim, tem pessoas que se alimentam egoicamente com os corações rompidos que vão deixando no caminho. Que por conveniência, seja financeira, emocional, social, levam a relação fazendo o outro acreditar na sua durabilidade quando já sabem que isso não acontecerá. A isto chamo de amor leviano.
Amor leviano machuca porque há conhecimento. Podemos não saber se uma relação irá ser duradoura. Há muitos fatores que influenciam o seu futuro. Porém, quanto mais adultos ficamos, temos a obrigação de nos conhecer melhor. Uma vez adultos maduros deveríamos cuidar com o equilíbrio entre viver o que desejamos e as expectativas do outro. Saber que se o outro se machuca também é responsabilidade nossa. Sabemos o que significa a decepção nessa fase da vida. Por mais leve que possa ser o amor na maturidade é com responsabilidade que deveríamos cuidar com as marcas que deixamos no outro.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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