No sábado 19 de novembro celebrou-se o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino lançado pela ONU em 2014. Ouvindo alguns fóruns de mulheres empreendedoras percebo que o sonho de empreender muda de acordo à realidade em que vivem. Para algumas é a possibilidade de sair de uma situação de subjugação ou de pobreza familiar. Para outras, é o sonho de criar uma grande empresa. O que percebi em comum é a dificuldade que a maioria tem em entender como fazer esse processo acontecer seja pela inexperiência em empreender. Seja, pela dificuldade em lidar com o mundo dos negócios que se apresenta masculino ou pela dificuldade em descobrir como lidar com os outros papéis femininos que teimam em ficar com a mulher. É sobre este último ponto que vou deter minha reflexão.
À medida que as mulheres foram ganhando terreno na economia, uma força social começou a crescer: a valorização pelas crianças e a revalorização da família. Devo deixar claro que não tenho nada contra nenhum desses dois aspectos; meu ponto de reflexão – e não de crítica – é que isso tem resultado na decisão de muitas mulheres voltarem para casa para criar os filhos e, consequentemente, cuidarem do lar. Me pergunto, se não é uma nova forma de manter vivo um velho modelo que estamos lutando há muito tempo em quebrar?
É claro, que há nuances neste modelo. Conheço jovens pais que dividem muito bem as tarefas domésticas e a responsabilidade com os filhos, assim como homens que assumem este papel em prol da carreira feminina melhor resolvida. Entretanto, o modelo que mais parece se repetir é do pai proveedor – mesmo que seja um pai mais presente e ativo que os de décadas atrás – e mãe responsável pela casa e filhos. Neste modelo, o empreendedorismo feminino surge como mais uma fonte de renda familiar e a oportunidade de manter a mulher profissionalmente ativa e atualizada. Se for isso, tudo pode fluir maravilhosamente bem.
Porém, caso o desejo seja tornar o empreendimento grande, considero que a mulher que ficou com a maior responsabilidade dos filhos e do lar, terá dificuldades em fazer os trade offs que um novo negócio exige. É importante pensar, antes de empreender, o que se deseja com o novo negócio. Os empreendedores podem passar a impressão de maior liberdade e autonomia – sim, isso é verdadeiro – mas erra quem associa isto a maior tempo livre.
É necessário foco, e isso inevitavelmente, traz menor atenção aos outros aspectos da vida. Não existe milagre. Para conseguir o foco precisa se dividir – e não só contar com ajuda esporádica – com o companheiro as questões domésticas e familiares. A família está pronta para isso?
Por outro lado, compreendo que os movimentos humanos que nos levam a resgatar modelos passados – mulheres cuidando exclusivamente do lar e dos filhos – o fazem para corrigir erros e preencher vazios que o lugar onde chegamos não foi capaz de preencher; mas me permitam questionar se esse feminino-maternal, trará no futuro todas as alegrias e satisfações importantes para a autoestima feminina e seu fortalecimento social. Como sempre, não existe caminho perfeito, mas a paz, acredito, vem quando fazemos escolhas conscientes, alinhadas com nosso Sentir e combinadas com a família.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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