Um dos programas que mais gosto aos domingos é ir a missa. Provavelmente não pelo motivo que você está imaginando – ou não só por ele. Tenho interesses bem mais mundanos. Gosto de chegar cedo. Sento num lugar bem específico e não demora muito para elas começarem a chegar: são as senhoras de, no mínimo, 60 anos que frequentam a mesma missa. Delas que quero falar!
Esqueça aquela imagem de beatas com a bíblia e o terço nas mãos. Esqueça também as roupas escuras, enlutadas. Esqueça caras carrancudas, fechadas e com medo do pecado. Essas senhoras são tudo, menos isso. Chegam elegantes, com o cabelos arrumados, as unhas feitas, produzidas. Andam com atitude, orgulhosas de si. São falantes, animadas, sorridentes. Algumas chegam acompanhadas, outras sozinhas. Isso importa pouco para eles. Sentam num mesmo grupinho, contam as novidades, precisam ser silenciadas para a missa começar.
Eu já tentei me enturmar, mas fui rejeitada. Ainda preciso aprender muita coisa para poder me juntar a elas. Neste momento, o único direito que tenho é de observar e invejar a plenitude delas. Sonho em ser assim e fiz um pacto com 3 amigas: se alguma de nós quiser ser daquelas velhinhas “chatonildas”, as outras não vão deixar.
Saio da missa renovada: entre todos os movimentos do nosso tempo, esse é um dos que mais inspira a minha alma. É claro que a condição do idoso em nosso país (e no mundo) é bem delicada, mas a esperança nasce dos que são contrários ao conformismo. Caso das minhas amiguinhas de domingo! Hoje chegar aos 60, 70 anos é muito diferente não só do ponto de vista físico, mas também comportamental e social.
Por que mesmo eu não posso me divertir e ser feliz do meu jeito aos 60 anos? Se criei meus filhos, se trabalhei minha vida toda, se fui responsável com meu dinheiro, minha saúde, minha cabeça (e meu espírito, afinal) eu não teria direito de gozar os frutos que plantei galgado em que lei? Lei dos homens? Lei divina?
É isso que essas senhorinhas me dizem!
Outro dia ouvi dizer que quando a gente começa a pensar numa coisa é sinal que entrou no “bonde do inconsciente coletivo”. Deve ser mesmo porque foi só pensar em falar sobre as senhorinhas poderosas (que é como as chamo) e o tema “pipocou” na minha frente. Primeiro li um artigo da Miriam Goldenberg, na Folha de São Paulo. Foi quando ouvi a expressão “sexalescentes” (sexagenários+adolescentes) pela primeira vez. Ela fala do conceito e que circula pela internet num texto supostamente assinado por ela. Existe até uma versão musical no Youtube. Resumidamente: trata-se de uma nova faixa social formada por pessoas de mais de 60 anos que rejeitam a palavra “sexagenário” porque envelhecer não está nos seus planos. Miriam explica que o texto da internet não é dela, mas que gostaria de saber de quem é, pois ela concorda com o fenômeno e desconfia que autora seja de uma “coroa poderosa” .
Andei investigando, mas não consegui avançar muito no assunto. Conclui que, assim como os adolescentes, o sexalescentes também dão seu jeitinho de deixar os curiosos, como eu, de lado. Eles querem privacidade. O melhor que encontrei foi neste blog . Lá fala que o texto original é de uma escritora chamada Tita Teixeira.Vale a pena a leitura.
Hoje quando estava a caminho do trabalho ouvi no rádio algo sobre a “nova cara da terceira idade”. Entrei no site e encontrei um movimento divertido e sério ao mesmo tempo: a mobilização para a mudança do ícone que representa a terceira idade.
Nada mais justo e correto: ícones desgastados precisam ser alterados, ignorados, rasgados para sempre. Em seu lugar deve surgir símbolos que representem, positivamente, os movimentos desta era. Minhas companheiras de missa merecem.
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