Esses dias recebi um elogio que me fez feliz e, claro, me fez pensar sobre a lógica que eu tenho sobre a beleza. Meu marido e eu estávamos falando sobre idade – nossas – e seus reflexos nas nossas vidas. Este tema tem nos circundado nos últimos anos, desde que chegamos à década de 50. Modificações claras e visíveis aconteceram rapidamente. Ambos somos cuidadosos com o físico e nossa aparência. E optamos em fazer isso da forma mais natural possível. Nessa escolha, o corpo vai mostrando, gradativamente, o que é ficar mais velho sem grandes artificialidades.
Por algum motivo, ficar velhos não nos apavora. Talvez porque tivemos e temos velhos ativos ao nosso redor. Pessoas que admiramos. Talvez porque conhecemos pessoas velhas belas e charmosíssimas com suas rugas e expressões de terceira idade. Talvez porque a beleza jovem não seja, nem nunca tenha sido, o padrão ideal que nos guiasse.
Mesmo assim, quando pensamos em beleza, há alguns atributos que estão inseridos em todos nós e que nos fazem considerar alguém belo ou não. Fomos ensinados a considerar belas as pessoas com corpo magro e firme. Também aprendemos a considerar belo alguém jovem. Assim, os atributos de pele, cabelo, corpo, elasticidade e por ai vai, de quem é jovem são nossos padrões de beleza. Podemos pensar diferente e ter um pouco mais de autonomia em relação ao padrão que rege nossa sociedade, mas seria ingênuo pensar que estamos livres da sua influência na nossa construção do que é uma pessoa bela.
Assim, é inevitável se observar no espelho e não ficar chateado com a pele que perde elasticidade e o peso que aumenta. Sem contar que esses novos quilos ficam distribuídos por novas partes do corpo e são bem mais difíceis de perdem. Ah! bem mais… todo mundo que está na casa dos 50 anos sabe bem do que estou dizendo.
Vejo nesse momento amigos assumirem a meia idade como um caso perdido em relação ao cuidado com a aparência. Simplesmente se descuidam. Sei que a luta é árdua – bem árdua – mas a considero honesta e justa. Sentir-se bonito faz bem a autoestima. O belo fez bem a alma. A questão é o que consideramos belo. E se esse belo se adequa a nossa realidade. Por isso, naquele dia conversarmos com meu marido, quando expressei minha preocupação com a minha aparência na velhice, ouvi palavras que acalentaram minha alma ao saber que o padrão estético dele separa o conceito do que é belo, do magro e do jovem: “você pode até ficar gorda, ficar velha; mas feia, você nunca vai ficar”. Sem dúvida, uma forma diferente de construir o que será meu padrão de beleza na terceira idade.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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