Esta semana ouvindo uma amiga, refleti sobre a diferença entre o amor de duas pessoas maduras e o amor entre duas sem maturidade. Deixando claro que, nesta análise, maturidade não está conectada necessariamente com faixa etária.
Como já disse antes, acredito que um dos eixos da maturidade recai na capacidade de independência. No caso de uma relação romântica, considero relevante, haver a consciência que se vive sem o ser amado. Mais: que se pode ser feliz sem ele. Nunca será o mesmo tipo de felicidade – cada amor é um amor – mesmo assim, haverá felicidade.
Talvez fique uma eterna saudade do amor que poderia ter sido; o que não impede de continuar vivendo, conscientes que outros amores virão. Alguns mais intensos que outros; outros mais prazerosos e aconchegantes. Mesmo quando se tem clareza que o grande amor da vida passou e não vai mais voltar, a possibilidade de felicidade futura se torna real, quando temos uma relação de independência com quem amamos.
Muitos confundem amor ou praticam o amor como interdependência. Passam a existir a partir do outro. Vivem a vida do outro, começam a praticar os mesmos esportes, valorizam o mesmo tipo de lazer, começam a se vestir conforme o ambiente do outro… e aos poucos vão perdendo traços da identidade anterior. Muitas vezes numa busca, quase desesperada, de se acoplar ao ser amado. Será com medo de perdê-lo? Ou, quem sabe, para ser quem não se é?
Seja qual for o motivo, quando esse tipo de relação se estabelece, a pessoa faz de tudo para não perder o grande amor. E a cada espaço que cede, vai perdendo força de negociação, vai perdendo força de ser quem se é. Vai se emaranhando num novelo sem fim. Vai reforçando a crença que sem esse amor, não se é nada. Nesse ponto, pode ter razão. Depois de perder a identidade, sobra o quê? No meu dicionário do amor, amar profundamente, não significa deixar de ser quem se é. Até porque um amor que nos exige deixar de sermos quem somos, afinal, ama quem? A nós, ou a ideia futura do que seremos?
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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