Estranhou o título do meu texto desta semana? Pois foi a única forma de conseguir que o Facebook e o Instagram permitissem que impulsionássemos o texto. O que você acha disso? Tudo bem para nós porque de certa forma o texto fala sobre o que consideramos bom ou ruim e como uma cultura restritiva pode modificar a forma de ver as coisas. Passei parte dos meus últimos dias assistindo o documentário “Sexo (a palavra certa você já adivinhou…) e Amor pelo Mundo” da CNN. O documentário, sob o comando da jornalista Christiane Amanpour (disponível na Netflix), apresenta como são vistos e tratados esses temas em cidades culturalmente distantes entre si. Embora ainda não vi todos os episódios, dá para ver que este documentário é uma bela oportunidade para entender o que são crenças e valores na prática, e, como, de fato, mudam nossa noção de realidade. Notar como as crenças, e os valores que elas suportam, fazem toda a diferença na visão de mundo que as pessoas têm sobre os mesmos temas. É o que faz o mundo ser plural.
Se por um lado é fascinante contarmos com essa pluralidade que nos expande e nos oferece novas possibilidades; por outro, graças à globalização cultural promovida, principalmente, pela internet, estamos criando significados universais para valores humanos – se você achava que já existiam talvez você tivesse usado como referência só uma parte do planeta, o ocidente. A pluralidade versus o universalismo dos grandes valores humanos criam uma zona de tensão social imensa. A diminuição do tamanho deste conflito passa pela compreensão que o diferente é só isso: diferente. E que uma crença, quando bem alicerçada leva tempo, muito tempo, para ser modificada. Há um avanço e retrocesso quase que sistemáticos. Uma dança social que realizamos por séculos. Parece que somos impelidos para avançar e romper barreiras até então impostas, e em algum momento, recuamos assustados com o novo. O novo assusta porque ainda não tem forma definida. Para quem adora o controle, é um terror.
O documentário me trouxe várias reflexões e ao longo dos textos das próximas semanas irei trazê-los sob diversos aspectos. Decidi iniciar pela construção do que consideramos real e correto. Embora não gosto do termo correto porque o vejo como uma visão estreita da vida e seus costumes e, devo confessar, que tudo que é limitante, anda me incomodando ultimamente; mesmo assim, vou usá-lo para dar o sentido do que consideramos bom para nós e a sociedade em que vivemos.
Nos três primeiros episódios vemos, sob a ótica ocidental, sociedades conservadoras, machistas e repressoras da liberdade sexual, afeta especialmente as mulheres. O surpreendente é que na antiguidade, nas três cidades, com culturas milenares, o sexo e o êxtase que ele pode proporcionar, eram vistos como algo que aproximava a Deus. Algo a ser buscado. Sem tabu. O tabu em relação a sua prática e, especificamente, a participação da mulher são processos culturais recentes. E, pelo que se apresenta no documentário, as religiões tiveram papel importante nesse processo. Em algum momento da história desses países, as religiões modificaram o sentido do sexo, da participação da mulher e do seu prazer.
Assim, uma sociedade que estudava e se aprimorava na arte de fazer sexo – com livros contribuindo para isso – como a do Líbano, Japão e Índia, hoje o reprime como se fosse quase um pecado. Especialmente para as mulheres. Praticamente uma mudança total de visão de mundo. O pacto social que sustentava a liberdade sexual, foi modificada alguns séculos atrás. Chamo a atenção a este ponto para mostrar como vamos modificando nossa forma de ver o mundo ao longo do tempo, quase sem perceber. E o quanto acreditamos – e defendemos – ser correto a nova forma de ver as coisas, sem olhar para trás e entender todo o processo. Mais: sem avaliar se estamos ou não de acordo. Somos levados, como se fôssemos um rebanho (qualquer similitude com a alguns discursos religiosos talvez não seja mera coincidência) para o destino que o poder regente elege. Triste, não é? É em parte contra este não pensar e desconhecer outras possibilidades que invisto para continuar a publicar e colocar outros pontos e vista.
Após os três episódios que assisti fiquei refletindo sobre as religiões e o quanto elas tiveram um papel preponderante na visão de mundo moralista e restritiva que a maioria de nós carrega. Podemos tecer diversas reflexões e comentários sobre os motivos que levaram as religiões a isso. Creio que quase todos os caminhos irão nos levar à busca pelo poder. E, desejo deixar claro que, aqui não estou tratando religião como a nossa relação com nossa espiritualidade e nossa crença em algo ou um Ser maior. Quando falo em religião me refiro ao sistema que organiza, cataloga e ordena sob esse título. Impondo uma condição moral. Foi fluindo nessa reflexão que veio à minha mente a frase de uma pessoa especial, que nas suas aulas de história antiga, me ensinou muito: “antigamente, ficávamos de pé para nos conectar como aquilo que considerávamos sagrado. Quando as religiões chegaram, começamos a ajoelhar”.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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