Ontem recebi um e-mail de uma amiga cujo o assunto era: “nós não merecemos isso”. Na mensagem tinha um link de um jornal on-line com o artigo de um jornalista conhecido. Comecei a ler sem grandes pretensões e fui me envolvendo com o texto até que fiquei completamente absorvida com a história. No fim das contas era muito triste. Não vou citar nomes, nem mesmo incluir um link para o artigo original, mas vou contar o que aconteceu para trazer uma profunda reflexão.
O executivo financeiro de um grande conglomerado foi realocado de seu cargo, em uma das empresas do grupo, para a presidência de outra empresa da mesma corporação. O que era para ser transitório virou permanente durante 7 anos até que os donos da poderosa holding decidiram, junto com o um de seus consultores, que era hora de tirar este executivo do jogo. Até aí são coisas da vida e, a empresa, tem todo o direito de mudar as pessoas.
Daqui para frente, porém, começa uma sequência trágica de acontecimentos: primeiro a escolha do dia para a demissão – na semana entre o natal e ano novo. O executivo, que trabalhava numa cidade diferente da sede do grupo, foi chamado para uma reunião e, como bom workaholic que era, trabalhou exaustivamente durante o natal num relatório com números do ano, acreditando ser este o assunto do tal encontro. Ainda levou um pacote de CDs de música clássica que ganhou de parceiros, para o consultor, que ficou com a missão de demiti-lo. Pois mal deu tempo de entregar o “mimo” e já levou a notícia que seria desligado da empresa. Atordoado, surpreso e totalmente fora do ar, passou a fazer as reuniões com todos, como se nada tivesse acontecido, embora estivesse combinado que ele sairia em março. No fim das contas ficou tão surtado que acabou sendo dispensado até antes. Sobre os verdadeiros motivos que levaram demissão dele, aparentemente, nada parecia fazer muito nexo. No seu último dia fez um discurso de oratória perfeita e encontrou a força dos guerreiros para ultrapassar a tempestade frente a milhares de pessoas que foram lideradas por nos anos que ali ficou. O jornalista, que trabalhou com ele, disse que nunca mais ouviu falar naquela pessoa, até dias atrás, quando soube, via facebook que ele havia se suicidado. Um homem de 49 anos.
Esta história me tocou profundamente. Normalmente prefiro buscar lado positivo das histórias, que motivem, estimulem. Mas não consegui deixar este relato para trás. Tentei durante todo o dia me focar em outro texto, mas foi impossível. Neste momento da minha vida, em que tento buscar um meio alternativo para continuar a conviver em paz com o mundo corporativo, sinto-me muito sensibilizada pela forma como as pessoas lidam com suas profissões. Tenho visto muita gente sofrendo no trabalho, se mutilando, passando dos seus limites. Isso não está certo. Tem que existir algum jeito de reequilibrar o ambiente corporativo, voltarmos a ter mais prazer no que fazemos, sermos mais felizes.
Um dia meu namorado me disse que eu deveria abrir uma consultoria para ajudar executivos a reencontrar a felicidade. Fiquei lisonjeada em saber que ele achava que eu era capaz de exercer um trabalho tão nobre, mas respondi que eu não tinha a menor capacidade para fazer isso. Nem saberia por onde começar! E ele respondeu, dando a entender que estava falando muito sério: “É só usar a mesma fórmula que aplicou para você mesma nos últimos tempos”.
Hoje eu desejei ter realmente a capacidade ajudar executivos a levarem menos a sério seus empregos,cargos, posições e até mesmo, a si mesmo. Nenhuma empresa, por mais maravilhosa que seja, vale sua paz de espírito, muito menos, a sua vida. Minha amiga tem razão: “nós não merecemos isso”.
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