Um dos comportamentos mais comuns atualmente é a falta de cuidado em nossos relacionamentos. A maioria das pessoas não está disposta a entender o outro. Dialogar com calma e entender as razões de cada um então…é quase uma afronta. É mais fácil desistir, partir para outra. As estatísticas dos casais que se divorciam nos primeiros anos do casamento estão aí para comprovar. E nas nossas andanças pelo Movimentos Humanos a gente confirma a estatística e percebe o quão inconsciente é, muitas vezes, a intolerância entre casais o que leva logo ao rompimento e não a oportunidade de amadurecer e criar uma relação equilibrada.



A grande questão é que todos nós somos diferentes e se não estivermos abertos ao diálogo e dispostos a ceder, o mínimo que seja, certamente só veremos mais e mais amores acabarem em mágoas e processos de separação. Não é fácil cultivar uma relação. É como educar filhos: dá trabalho, exige atenção e não tem fim. Tem que cuidar diariamente. A vontade de desistir, muitas vezes, é um alívio para aquilo que não conseguimos lidar. Mas também não é a solução, pois você pode fugir  para o deserto do Saara e, mesmo assim, o que não foi resolvido vai, de algum modo, te acompanhar.

Este assunto veio à tona neste fim de semana para mim. Eu e meu “namorido” somos muito diferentes no jeito de agir e (re)agir. Isso já fez com que a nossa relação chegasse a beira do penhasco inúmeras vezes. Aliás, a relação chegou a despencar – é bem verdade. Digo que foi  preciso nos matar para revivermos num relacionamento com um olhar mais maduro, mais entregue. Amadurecemos em nome de algo muito maior que as diferenças: a vontade de ficarmos juntos. Pois bem…a vida nos coloca  a prova de tempos em tempos só para termos certeza de que aprendemos.

Vamos lá: Me mudei pouquíssimas vezes na vida (a última vez há 9 anos atrás, quando comprei um apartamento e a penúltima há 13 anos quando vim de Curitiba para São Paulo). Mas as poucas vezes foram suficientes para ver como funciono a respeito do assunto. Gosto de fazer a mudança sozinha. Claro que preciso de ajuda para levar os móveis de uma casa para outra, mas quando está tudo na casa nova, prefiro resolver só (ou com o mínimo de pessoas possíveis). Isso faz com que eu entre em contato com aquele novo ambiente e, aos poucos, sinto dentro de mim, a transformação da casa (ambiente físico) para o lar (ambiente de proteção). Dá um trabalho danado. Mas é a renovação que preciso para começar um novo ciclo.

Meu companheiro, claro, gosta mesmo de resolver tudo em comunidade. Reunir as pessoas queridas para ajudar na mudança, todo mundo dando palpite, a casa cheia, amigos dividindo o espaço com as caixas e móveis fora do lugar, é o jeito dele se conectar com o novo ambiente. E como foi ele quem mudou no sábado, lá fui eu. Coração aberto, mas sabendo que estava prestes a viver uma experiência difícil. E apesar de ser a casa dele, combinamos que passarei mais tempo lá e, por isso, idealizamos o projeto juntos. Então a mudança era um pouco minha também. Combinamos que na parte da manhã eu iria resolver algumas coisas fora e ajudaria à tarde. Cheguei às 15h e o que encontrei? Como disse, ele gosta do coletivo. O apartamento estava tomado de caixas, móveis, amigos, música alta e animada, furadeira, telefone tocando e por aí vai. E, o meu amor querido, feliz da vida, no meio do caos, ainda me pergunta: “Por que você não trouxe o jimi?”(jimi é o nosso cachorro, meio igual a mim, que achei ficaria melhor na tranquilidade de um lar já montado!). No meio de tudo aquilo o aberto do meu coração, conforme afirmei algumas linhas acima, começou a virar uma frestinha quase imperceptível. Durante a primeira meia hora achei até que ele ia mesmo se fechar violentamente – como uma porta que bate com o vento forte. Mas percebi o que estava acontecendo comigo e consegui reagir ao movimento que me contrariava. Resisti firmemente a deixar meus impulsos irracionais tomarem conta da situação e comecei a trabalhar. Mão na massa, coração amenizado e vamos nessa. Estamos juntos e posso ao menos tentar, pensei.
A mudança terminou em pizza, no fim da noite, com mais amigos que foram chegando, e muita coisa ainda por fazer. Mas estávamos felizes. Ele com a conquista e eu com a experiência, com a felicidade dele (e com meu comportamento, confesso). É bem verdade que, ao decidirmos morar em casas separadas, facilitamos a vida e quando for a minha vez de mudar, vamos fazer diferente. Mas tudo bem. Sei que ele topa.

Para terminar o fim de semana, ontem ele já era melhor amigo do vizinho de porta, já conhecia a namorada do sujeito e já havia convidado o casal para um vinho, em casa, claro. Eu, nem preciso dizer, sou mais reservada e apesar de ter um relacionamento cordial com meus vizinhos, poucos se tornaram amigos e frequentam o meu apartamento. Pensei comigo: isso tudo é rápido demais para mim. Fiquei meio estranha e, meio de mal jeito, sem entender direito o que estava acontecendo, nós conseguimos nos adequar a situação. Ele foi ao supermercado comigo enquanto os vizinhos terminavam outro compromisso e de lá escapei para casa. Ele tomou o vinho com os novos amigos e eu tomarei muitos vinhos com eles também. Mas, calma, preciso respirar um pouco. Meu ritmo é diferente. Como meu namorado mesmo concluiu: “Nem certo, nem errado. Diferente”. Vitória do amor.