Assistir Invictus me fez refletir sobre meu conceito de sucesso e fracasso. Por ignorância tinha comigo que o governo de Mandela tinha sido um fracasso. Depois do filme entendi que estava totalmente enganada. Só ele ter sobrevivido à prisão e ter conseguido ganhar as eleições num país com profundas crenças racistas já era de por si uma fabulosa vitória. A figura dele como presidente durante o tempo que permaneceu no poder ajudou, sem dúvida, a diminuir a xenofobia na África do Sul, embora crenças dessa natureza leve gerações para se dissolver.
Então porque tinha a impressão do fracasso? Em primeiro lugar porque pouco me inteirei sobre o assunto, na época tão distante para mim. Segundo porque as premissas que me levaram a julgar como fracasso sua gestão, têm a ver com aquelas comuns aos governos: resultado econômico, imagem no exterior e índices de popularidade. Independente da validade desses índices, vale refletir sobre a origem dos mesmos.
Creio que estamos num momento histórico, uma ‘janela de oportunidades’, como tanto está se falando, com quebras profundas de paradigmas, mas continuamos a usar os modelos antigos para julgar e avaliar. Ou seja, muitas vezes o fato da pessoa não estar na mídia, não brilhar nos eventos ou ganhar prêmios e talvez como conseqüência disso, não ser ou deixar de ser considerada ‘elite’, nos leve a julgá-la como fracassada, mesmo que esse ‘fracasso’ seja oriundo da ousadia de sair do status quo vigente.
Por outro lado, estas pessoas estão sendo cada vez mais. Estão criando uma própria identidade, sem grandes revoluções contra o status quo, sem guerra. Mas simplesmente pela opção pacífica de querer viver o mundo de forma diferente. Crer e fazer um mundo mais humano. Onde o fracasso faz parte e é acolhido como etapa do crescimento.
Lembro de jantar que meu marido decidiu oferecer ao seu filho caçula em dezembro, após ter a confirmação de não ter passado em nenhum vestibular que postulou. Fomos a um restaurante especial para ‘comemorar’ o seu primeiro fracasso, que como ele mesmo disse no brinde, provavelmente o primeiro de muitos ao longo da vida. E esse voto, por mais estranho que soe, referia-se ao fracasso oriundo da ousadia, do aprendizado que leva ao crescimento. Também fizemos a reflexão sobre o que gerou o fracasso no vestibular para evitá-lo no futuro.
Hoje, cada vez que alguém conhecido ganha um prêmio, óbvio que parabenizo, é sempre maravilhoso ser premiado e mais ainda por uma entidade renomada. Mas lembro também de parabenizar meus amigos que não ganham prêmio nenhum, mas que estão obtendo suas vitórias, out of the scene (post 27/03/09).
Para todos nós que estamos tentando fazer um mundo diferente lembro do texto criado há muitos anos pelo meu amigo José Oliva, Pessoas são Música na qual ele disse no final: “pessoas têm que fazer sucesso. Mesmo que não estejam nas paradas, mesmo que não toquem no rádio.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
3 Comments
Nany, brilhante o post, assim como o filme.
O fracasso é, sem dúvida, parte inseparável do sucesso. Aprender a lidar com o fracasso para mim é, aprender a viver.
Grande abraço,
Léo
Sensacional, Nany! Suas palavras caem como uma luva. Beijo grande. IvI
É isso ai, Leo, fracassar faz parte de viver. Sem tanto peso aos nossos erros podemos arriscar mais.
bjs
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