Esta semana almocei com uma amiga querida que me contou que após um tempo sentindo que “não estava fazendo nada por um mundo melhor” decidiu oferecer seu sorriso às pessoas com as quais interage: o homem da banquinha, a moça do supermercado, o vizinho, a senhora no trânsito… toda vez que ela finaliza um diálogo e se despede, olha para a pessoa e oferece seu sorriso sincero. Embora considere esse gesto algo pequeno e pense que poderia estar fazendo algo a mais, ela se sente feliz de ter saído da vontade para a ação e me contou que está surpreendida com o que gera nas pessoas com as quais interage.
Não sei quantas pessoas ela já encontrou e receberam seu sorriso, mas o que eu consigo imaginar é o quanto isso pode significar de bom para alguém que do nada recebe um olhar atento e um sorriso nos dias de hoje. Se pararmos para pensar atualmente quase ninguém pára, direciona sua atenção gratuitamente para o outro e agradece olhando nos olhos. Demorando, no mínimo, o tempo que toma ler estas palavras. Pense bem, é simples: parar, olhar e agradecer olhando até o fim do gesto. Gesto simples mas raro, infelizmente.
Para mim, fazer o que minha amiga está fazendo é uma forma de doação: estamos doando nossos ‘preciosos’ segundos, nossa atenção, nossa energia. Você já parou para pensar quanto está difícil se doar? Cada um de nós tomou uma importância tão grande, que o Eu é imenso, espaçoso. Há sempre algo importante na nossa vida que nos faz viver correndo, preocupados, ansiosos. Sempre nossos problemas são os mais sérios, nossa família é a pior ou a melhor, nossa felicidade é a nossa grande meta… enfim sempre estamos conosco nas nossas mentes. Somos o nosso centro, o nosso sol. Não nego que a vida tem se complicado e que questões sérias familiares podem nos absorver ou que a busca pelo autoconhecimento seja vital; mas pensar no outro anônimo poder ser um grande exercício de diminuir a nossa importância.
E se olharmos por um outro lado, o que minha amiga está fazendo também o faz por e para ela. A sensação de fazer diferença nesta vida louca está deixando-a mais feliz com ela mesma. Sentir o contentamento, alegria, assombro, enfim, seja qual for a reação das pessoas ao sorriso que doou, traz a ela orgulho por si mesma e autoconfiança ao notar a sua relevância na construção de um mundo melhor. Sai da teoria para a prática.
O que mais eu gostei do que ela me contou é que ela iniciou. Saiu da vontade de fazer algo para ação. Aos poucos sem grandes planos, ações, nem público para aplaudir ou criticar, mas com pequenos gestos para pessoas anônimas que naquele dia abençoado, receberam um sorriso de alguém que podem nem conhecer mas que contribuiu para alimentar a sua alma e colorir o seu dia. Acredito muito que seja também com esses pequenos gestos que a gente consiga construir de fato um mundo melhor.
Se você puder hoje mesmo pare, olhe e sorria. Se doe por dois segundos. Faça isso pelo outro que não conhece e por você. Você vai descobrir a força de seu sorriso. E acredite, você vai amar!
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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