Parece difícil perdoar. Acompanho como todos a violência que está acontecendo entre Israel e Palestina e me entristece profundamente notar que há tanta dor de ambos os lados. Uma dor que continua sendo alimentada a cada ataque, a cada disputa. Cada um com suas razões e responsabilidades. Cada um com seus direitos. Mas uma coisa que sempre me pergunto: será que eles querem a paz? Digo isto porque existem pessoas, culturas, que estar em conflito é parte do viver. A paz, consciente ou inconscientemente não tem sentido. O valor pessoal passa pelo vencer. E o vencer tem valor quando é vencer a alguém.
Me recuso a entrar na questão de Israel e Palestina por completa ignorância de todos os detalhes e porque sei que há muita dor do presente e do passado para estar mexendo nisso. Mas toquei nesse assunto porque as vezes estamos tão enraizados num ambiente que seus valores são para nós como se fossem uma verdade absoluta. Fica difícil ver através de outros pontos de vista.
Vivemos numa cultura onde a competição é valorizada. Onde para subir alguém tem que descer. Num ambiente competitivo impor nossa verdade faz parte da força motriz. Seja por autoritarismo, seja por arrogância em achar que sabemos o que é melhor para o outro… não importa, o fato é que se impõe uma verdade.
Numa cultura como esta, perdoar fica difícil porque para perdoar é necessário ceder. Abrir o coração para compreender que razões de um outro que talvez sejam bem distintas das nossas, fazem sentido para alguém ao ponto de conduzir sua vida. Abrir o coração para outras verdades além das nossas.
A partir dessa compreensão podemos avaliar e decidir. Se mantermos nosso ponto de vista como única realidade fica difícil o perdão de coração aberto. O perdão neste caso acontece quando o perdoado diz que estava todo errado. Mas será que esse arrependimento é verdadeiro? Ou será só uma forma de reatar a relação mas no fundo seus valores e crenças não mudaram?
Para perdoar precisa se valorizar a paz acima da competição. Abrir mão da posição da estar sempre certa. De ter sempre a razão. Quando esse estado acontece, o que importa é a paz, é a conciliação.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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