Esta semana continuaremos trilhando o tema aberto pela Nany na semana passada: aprendizados ao cuidar de nossos pais no fim das suas vidas.
Entre as 5 lições que ela dividiu de forma tão amorosa conosco, um deles, tem sido, na minha visão, cada vez mais potencializado: vivemos momentos de muita individualidade e ter que mudar nossa trajetória, desejos, necessidades e, principalmente expectativas, para cuidar de uma pessoa mais velha é sempre encarado, pelo menos num primeiro momento, como algo muito negativo. Um fardo mesmo.
E como disse o sábio amigo dela: “que sentimento é esse que não é capaz de ceder à compaixão e acolher uma pessoa no final de sua vida?”
Sempre ouvi falar que nas culturas orientais, mais especificamente no Japão, o filho mais velho é responsável por cuidar dos seus pais até o final de suas vidas. Sempre achei esta tradição bastante poética, na minha visão romântica sobre este povo que tanto admiro.
Tempos atrás porém, percebi que não se trata de poesia – o que não significa que não seja admirável. Aqui ao lado da minha casa tem um família japonesa, donos de uma antiga lavanderia do bairro. A casa deles fica em cima do negócio da família e eu consigo ver a propriedade do meu apartamento. Durante anos acompanhei uma reforma que parecia não ter fim. Um dia, ao levar algumas roupas para lavar, perguntei que reforma era essa que eles faziam há tantos anos. O senhor mais velho me respondeu: “Esperamos a chegada do meu pai e devemos preparar a casa para ele”.
Papo vai, papo vem, descobri o pai morava sozinho no interior se já dava sinais de que precisaria de ajuda. E, para isso, a casa estava sendo completamente reformada, pois era preciso adequá-la às suas necessidades. Quartos foram modificados, a sala, a cozinha, tudo. Demorou porque foi preciso fazer aos poucos, quando sobrava dinheiro. Espantada eu disse: “Puxa vida que lindo filho você é, parabéns”. Ele me respondeu secamente: “Essa é a minha obrigação e ainda bem que, na minha família, tudo tem seguido o ciclo de vida normalmente”. Não havia nem tristeza, nem pesar, nem ego, nem vaidade na resposta dele. Nada além de algo natural.
Outro dia olhei pela janela e vi um senhor andando a passos bem miúdos no terraço dos meus vizinhos. Sentou-se no alambrado da janela que foi transformado em banco na época da reforma. Lá estava o tal ciclo da vida seguindo, embora não posso deixar de achar que, aquele banco colocado estrategicamente para se apanhar o solzinho gostoso do fim da tarde, não seja um carinho do filho para o pai.
A casa se transformou e tudo continua normal. Mas agora eu olho da minha janela e acho que aquela é a casa mais linda do mundo. A casa preparada para receber um pai.
A casa se transformou e tudo continua normal. Mas agora eu olho da minha janela e acho que aquela é a casa mais linda do mundo. A casa preparada para receber um pai.
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