Por algum motivo estreitamos os espaços em que nos movimentamos. Deve ser uma busca inconsciente pelo útero que nos permitiu a vida. Uma busca incansável por segurança, como se ela nos garantisse um futuro melhor. Seja qual for o motivo, temos a tendência em restringir ao invés de ampliar. Colocamos quase tudo em rotinas. Organizamos nossa vida em trilhos que nos levam a lugares conhecidos. Podemos justificar essa atitude pela falta de tempo versus tarefas diárias. Sim, as rotinas ajudam a lidar com boa parte do nosso cotidiano; e assim a vida vai acontecendo em perímetros confortavelmente próximos.
Na velocidade que o tempo está passando, quando vemos, passamos anos vivendo em poucos ambientes conhecidos. O conforto se instala e com ele a pobreza de experiências. Nossa nutrição provêm das mesmas fontes. Quem entende um pouco de nutrição sabe que a falta de variedade promove carências nutritivas. Novas ideias, muitas vezes, podem ser as mesmas com roupagens diferentes. Nossos horizontes ficam estreitos, assim como nossa experiência de vida.
Para muitos talvez isso não seja um incômodo. Pelo contrário, seja um ganho, uma conquista a ser mantida. Porém, eu me pergunto, por que optamos conscientemente de abrir mão da vastidão que o mundo nos oferece? Estamos num momento de transição de valores sociais. Num período em que modelos antigos que por séculos nos guiavam foram questionados até se transformarem. Mesmo que uma parte de nós esteja tentando reproduzir na estruturação do seu novo mundo, modelos antigos, dificilmente serão os mesmos. Neste período maravilhoso de criação, as oportunidades são inúmeras e elas costumam não estar nas nossas rotinas. O novo não está no antigo. Novos ares precisam da frescura do vento que corre e não para.
Para conhecer o novo precisamos, invariavelmente sair da área de conforto. Precisamos encarar novas formas, novos estilos, novas realidades, novos modos. Podemos não gostar. Aliás é bem provável que no início não gostemos. A tendência, promovida pela inércia, é voltar ao quentinho do conhecido. A dica é ir sem a pretensão de gostar e muito menos de aprovar para nossas vidas. Nossa intenção deveria ser a de simplesmente conhecer. Abrir-se para o novo exige disciplina, tempo, pausa e consistência. Precisamos elaborar dentro de nós, os novos nutrientes sem a pressa de uma decisão. Nem mesmo a de saber se gostamos ou não.
Conversar com pessoas que não costumamos ouvir. Trocar ideias com pessoas de diversas tribos e faixas etárias. Mesmo aquelas que aparentemente não interessam ou que possuem formas de vida bem distintas das nossas. Algo novo elas têm para nos mostrar. Com o tempo, vamos nos acostumando ao novo, e assim ampliando perspectivas e horizontes. Vamos tomando contato com a diversidade que a vida oferecer e que nutre a própria vida. Vamos enxergando possibilidades que nos permitirão escolhas mais ricas. Abrir-se à diversidade não significa mudar e romper necessariamente com o passado; significa permitir que riqueza da vida que mora na diversidade tome conta do nosso futuro.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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