Eu e a Nany somos amigas de muitos anos. Tivemos fases mais próximas e fases mais distantes. Mas desde que ela me convidou para fazer parte deste lindo projeto do Movimentos Humanos  passamos a estar mais perto do que nunca. Foi mais ou menos na mesma época que começamos a viver uma experiência – bem semelhante e bem diferente ao mesmo tempo – com nossos pais (ela com a mãe e eu com meu pai e minha mãe). 

A história do meu pai começou bem parecida com a da “mamita”:  um tombo que fez com ele nunca mais se recuperasse completamente e a saúde dele, ao longo do tempo foi ficando cada vez mais debilitada. A grande diferença é que ao contrário da Nany que cuidou da mãe diariamente, eu estou longe do meu pai – moro em outra cidade, 400 quilômetros nos separam. 

Meu pai é um homem adorável, doce, bondoso. É muito fácil gostar dele. Nós dois sempre tivemos uma ligação muito especial. Nunca precisamos de palavras para nos entender. Basta nossos olhares se cruzarem e simplesmente já sabemos tudo o que estamos sentindo. Mesmo agora, em que ele passa dias completamente desconectado deste mundo, ainda basta o olhar. Por isso ficar longe é tão opressor. Me sinto culpada por isso. Ninguém me culpa. Apenas eu. Meus irmãos, os que estão mais próximos dele, carinhosamente aceitaram a tarefa de cuidar do dia a dia (e da minha mãe também). Mas como bem colocou a Nany no texto que abriu esta semana: 

Compreender que o amor e dedicação que você dá é uma decisão sua. O ideal familiar nos diz que a família estará unida para colaborar em igual proporção, distribuindo a dificuldade e o trabalho. Mas isso é ilusão para a maioria das famílias. Cada um se envolve com o que está disposto e de acordo a seu grau de compreensão e desenvolvimento humano. E o que você oferece em atenção, amor, dedicação, trabalho… pertence a você. Quando compreendi isso, tudo ficou mais amoroso e fácil de lidar.


Justamente por conta disso, diversas vezes pensei em segurar minha vida aqui por algum tempo e me mudar para a cidade deles e, desta forma, ficar mais próxima e ajudar nesta luta diária. 

Mas foi a própria ligação que tenho com meu pai que me fez mudar de ideia. Ele não gostaria que eu fizesse isso. Ficaria triste, contrariado. Ele me ensinou a ir atrás dos meus sonhos, do meu crescimento pessoal. Ele se preocupava com a minha independência desde que sou pequena, mas me apoiava, me incentivava. Ficava feliz porque sabia que ali estava a minha essência.

 Mas e aí? Como fica? Como eu ajudo apesar de não estar lá com tanta frequência. Tento ser o ponto de equilíbrio. Tento ser o ponto de apoio para eles. Fico disponível e me proponho a ir lá sempre que meu irmãos ficam cansados. 

Eles entendem isso, mesmo que não seja algo formalmente combinado. Assim, vamos seguindo. Cada um com o seu jeito de lidar. Mas o que é lindo – e acalma um pouco a minha alma – é o quanto de amor este homem consegue movimentar a sua volta. Estamos todos unidos pelo seu bem comum. Pelo quanto o amamos. E isso é simplesmente renovador. Seguimos em frente e enquanto ele estiver aqui conosco vamos tentar retribuir tudo que ele sempre nos ensinou, especialmente, os valores que eles nos passou. 

É uma honra ser filha deste homem e assim sempre será.