O fato de estarmos falando tanto em crenças fez algumas pessoas nos perguntarem se podemos viver sem elas. Creio que isso é impossível. Pelo que estudei até agora, vejo que sempre temos que crer em algo. Acreditar faz parte do ser humano. As crenças nos move.
Estudando a história, inclusive a atual, vemos que toda sociedade tem seus mitos. Que contribuem com a construção e consolidação de crenças sociais. O que é bastante saudável, no meu entendimento, porque os mitos são instrumentos – como dizia Joseph Campbell, um dos maiores estudiosos de mitologia de todos os tempos, um pouco verdadeiros, um pouco falsos – que ajudam a lidar com o intangível, o desconhecido, o que não conseguimos explicar nem entender. Ajuda a lidar com nossas sensações e sentimentos.
As crenças criam realidades na nossa mente e no nosso sentir que nos conduzem, que nos promovem ou nos limitam; que nos ajudam a decidir o que faremos, o que seremos. Se elas são tão relevantes assim, porque não, então, questioná-las?
Para contribuir com essa reflexão aqui vão alguns conceitos: existem as crenças motivadoras, que nos levam para frente, que ampliam nossos horizontes, que tornam positiva a nossa vida, a nossa realidade. Existem crenças limitantes que fazem que duvidemos de todas as nossas possibilidades. Que restringem nossa realidade; a tornam difícil, densa, pesada.
As crenças são criadas dentro de nós pelos valores que observamos e recebemos desde bebês e que alimentamos através de escolhas – por isso é tão importante compreender pai e mãe ou a ausência de ambos na nossa vida.
Também contribuem à formação de crenças as experiências que vivemos. E este é um ponto interessante: as crenças são tão poderosas em nós, que muitas das experiências da nossa vida, devem-se a escolhas que fazemos para, inconscientemente, comprovarmos a realidade que cremos. De tudo que aprendi até agora tenho uma crença que me guia: nós temos o poder de criar – e recriar – a realidade em que vivemos.
Não ficou claro? Vou usar como exemplo uma crença limitante que observamos no Projeto Mulheres e no Projeto Homens: não existe amor leal. Se você parte desta realidade – e se neste momento você diz: ‘mas isso é verdade’, cuidado! – é muito provável que você seja tolerante com pessoas menos leais nas suas relações amorosas, afinal, não existe amor leal. É possível ainda, que você também não seja leal com seus amores; afinal, não existe amor leal.
E a pergunta que deixo para você é: como você espera lealdade se você já escolhe pessoas desleais? Como você espera lealdade, se a lealdade talvez nem seja um valor tão relevante para você já que tolera a deslealdade? Talvez você diga, mas se eu esperar lealdade numa relação amorosa ficarei só. Será? Não será esta uma crença limitante sua? Ainda, será que as pessoas leais não te interessam? Será que elas não são interessantes para você? E se continuarmos nessa linha, porque elas não seriam tão interessantes para você? É bom refletir sobre isso porque nós projetamos nos nossos companheiros o que desejamos representar. Somos o consorte de quem escolhemos para amar. Bom, mas isso é tema de outro post.
Voltando, uma coisa tenho certeza: quem acredita piamente que o amor pode ser leal tem muito mais chances de viver um amor assim.
Portanto, quais crenças limitantes e motivadoras você escolhe para te guiar?
Para quem se interessar pelo tema de mitos nossa sugestão é ouvir o mestre Joseph Campbell falando sobre O Poder do Mito. Trata-se de uma entrevista que deu lugar ao livro mais famoso dele, com o mesmo título.
Boa segunda-feira para você.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
0 Comments
Leave A Comment