Quando eu me separei, há quase 15 anos, não tinha maturidade suficiente para entender que devia explicações para algumas pessoas que, de certa forma, estavam envolvidas neste relacionamento. Especialmente meus pais e meus sogros. Soube, algum tempo depois, que minha sogra ligou para a minha mãe perguntando o que havia acontecido. Ela respondeu dizendo que eu era uma mulher difícil e impetuosa, que sempre fazia as coisas do meu jeito sem dar muitas explicações e, ainda por cima, eu não era exatamente uma dona de casa, pois trabalhava muito. Quando ela me contou isso fiquei muito magoada. Hoje eu entendo o que ela disse e até concordo. Em partes.
A verdade é que eu não era mesmo dona de casa, pois eu tinha uma profissão e trabalhava – o que era uma realização para mim, mas também uma necessidade já que ajudava a pagar as contas da casa. Também era mandona e, realmente, nunca parei para avaliar que em uma vida a dois é preciso fazer “combinados”, ou seja, fazia mesmo o que queria sem perguntar ao meu marido o que ele achava. Com a maturidade que os anos me trouxeram, percebo que eu nem tentei salvar meu casamento. Simplesmente deixei o que não estava funcionando para trás e fui em busca da minha felicidade.
Mas esta é apenas parte da história. A outra parte teria que ser contada pelo meu ex-marido e, sinceramente, eu não conheço a versão dele, embora tenhamos um ótimo relacionamento hoje em dia. Por isso não posso – e não devo – falar por ele, mas ainda hoje me pergunto se havia algo que poderia salvar o nosso casamento. Ele era um homem honesto, íntegro, trabalhador. Um bom pai também. Mas eu realmente tinha dentro de mim um ânsia de querer muito mais do que brincar de casinha. Eu queria ganhar o mundo, ser surpreendida, viver algo quente, arrebatador. Mas a nossa relação era morna e não havia diálogo. Não posso dizer que ele se sentia um pouco como uma “majestade”, conforme nossa reflexão no início da semana, mas acredito que se eu fosse uma mulher com menos desejos e mais conformada com a vida, ele teria ficado muito bem ao meu lado, recebendo os agrados de esposa carinhosa, que reconhecia o esforço que ele fazia. O problema é que eu não via esforço. E nós tínhamos apenas vinte e poucos anos!
Refletindo sobre isso, tantos anos depois, acredito que fomos vítimas de um momento em que homens e mulheres estavam perdidos sem saber ao certo o papel de cada um. Mas por algum motivo, eu me recusei a ficar naquele jogo de faz de conta. A vida levou cada um de nós para onde deveríamos ir. Mas teria sido bem legal se eu já soubesse todas as coisas que sei hoje. Talvez eu não tivesse sido a moça impetuosa que minha mãe descreveu para minha sogra como motivo da separação. Tudo está certo no melhor dos mundos afinal. E quem sou eu para dizer que não.
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