Uma vez estava participando de uma conversa na piscina do meu prédio, mais como ouvinte do que como participante, na verdade. Uma vizinha contava a história da filha da amiga do parente e dizia que a menina havia largado toda a vida boa de princesa na casa dos pais aqui em São Paulo para ir morar com um funkeiro carioca. “Foi morar no morro” , ela dizia abismada.
Os outros participantes expressavam sua opinião, alguns mais a favor da liberdade de escolha da menina e outros radicalmente contra. De tudo que ouvi, duas frases não sairam da minha memória. A primeira dita pela própria narradora da história: “Se fosse minha filha eu respeitaria a decisão dela, pois amor de mãe é incondicional, mas dentro do meu coração eu não aceitaria jamais”. A outra frase, vinda de outra vizinha que tem duas filhas, era “Eu dou todo o apoio, desde que não seja com as minhas filhas”.
Na época, pelo que me lembro, eu as julguei, pois achei que elas estavam usando a habitual lei do “dois pesos e duas medidas”. Pensando bem agora e avaliando nosso tema a respeito da isonomia fico na dúvida de quantos de nós, pobres mortais, não fazemos em assuntos especifícios o mesmo que elas fizeram aquele dia. Ou pior: quantas vezes não dizemos que aceitamos os outros e, principalmente suas diferenças, e saímos por aí orgulhosos por sermos pessoas evoluídas, maduras, capazes de tolerar qualquer tipo de diferença. Como disse Jesus Cristo, na minha opinião, o primeiro e mais forte propagador da verdadeira tolerância e aceitação: “que atire a primeira pedra quem nunca errou”.
Escrever sobre os mais diversos Movimentos Humanos apontados nas pesquisas da Behavior me faz aprender muito sobre mim mesma, meus relacionamentos, minhas forma de agir. A cada passo que dou para desenvolver os textos, mais e mais portas vão se abrindo e tudo fica mais claro – sem dúvida – mas também mais exposto. É surpreendente, por exemplo, me ver diante desta verdade: quantas vezes não levantei bandeiras de pessoas e pensamentos diferentes, mas que no fundo não passavam de um discurso semelhante ao das minhas vizinhas e colegas de piscina? Respeito, mas não aceito foi praticado por mim centenas de vezes. Milhares de vezes! E continuará sendo, afinal, a consciência do fato é sempre e apenas o primeiro passo.
Aceitar o outro exatamente como ele é, amá-lo e respeitá-lo de forma verdadeira e não apenas como exercício de gradiosidade egóica é tão poderoso quanto difícil. Mas é maravilhosa a descoberta e por isso resolvi compartilhar com vocês, acreditando que o exemplo sempre mexe com as pessoas que estão abertas a caminhar também. Deixo aqui duas reflexões filosóficas que li durante o momento em que estudava para fazer este texto e que me ajudaram a ir mais a fundo no tema e em mim mesma. Que este final de semana seja feito para colocar em prática todos os aprendizados.
(…)não bastaria evitar a humilhação dos outros. É preciso também respeitá-los – e respeitá-los precisamente na sua alteridade, nas suas preferências, no seu direito de ter preferências. É preciso honrar a alteridade do outro, a estranheza no estranho, lembrando (…) que o único é universal, que ser diferente é que nos faz semelhantes uns aos outros e que eu só posso respeitar a minha própria diferença respeitando a diferença do outro. (Zygmunt Bauman)
Se os homens não fossem iguais, não poderiam entender-se. Por outro lado, se não fossem dife- rentes, não precisariam nem da palavra, nem da ação para se fazerem entender. Ruídos seriam suficientes para a comunicação de necessidades idênticas e imediatas. (Hannah Arendt)
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