Amar e ser amado pela sua alma gêmea, todo mundo quer. O mito do amor romântico que nos deixa “felizes para sempre” acompanha a humanidade há muito e muito tempo e, olhem só: é o maior sonho das mulheres e homens contemporâneos brasileiros que encontramos no Projeto Mulheres e no Projeto Homens. Embora o Projeto Mulheres tenha acontecido há mais 3 anos, ele continua reinando vigorosamente.
O que leva mulheres e homens a quererem tanto viver um grande amor romântico? Esta semana será dedicada a esse nosso sonho mais precioso. Traremos aqui alguns conhecimentos que te ajudem a refletir e, com isso, continuar mais consciente, teu caminho de desenvolvimento.
Falaremos primeiro sobre a crença de que o amor romântico tem o poder de nos salvar. É como se ele nos tirasse de uma área cinzenta e nos colocasse numa dimensão colorida. Os mitos que carregamos criam imagens internas que nos conduzem. Quanto mais consciência temos deles, mais temos domínio sobre essas imagens internas e suas consequências em nós. Mais protagonistas somos de nossas vidas.
No caso do amor romântico, a imagem que me vem quando ouço os entrevistados falarem sobre seus sonhos e expectativas a respeito, é como se fosse um filme que os mostra sobrevivendo a cada dia, na sua rotina diária. Algumas vezes têm momentos de alegrias e diversão, outras nem isso. Essa vida pode não ser cinzenta, mas falta brilho. E ai, como num passe de mágica, o amor romântico os toca – ou deveria tocá-los – e ai tudo muda. É como se começassem, de fato, a viver. Há uma intensidade, um brilho na vida que os deixa leves e felizes. Começam não a viver, mas a flutuar. E assim levam a sua iluminada vida adiante até se arrebentarem passos para frente.
Existe toda uma construção cultural em relação à necessidade que sentimos de ter alguém ao nosso lado. Sem dúvida, o mundo contemporâneo, mesmo com todo o ganho de modernidade e liberdade inserida nele, foi feito para estar no mínimo a dois. Tanto mulheres como homens sentem-se melhor aceitos socialmente, quando acompanhados pelo seu par. Estar só e interagir socialmente só, é como se tivesse algo de errado conosco, de inadequado.
E esse é um dos pontos do qual o amor romântico nos salva: do sentimento de inadequação social. Muitos dirão para mim, que não se importam como o quê dirão. Desculpem, mas não conheço ninguém que viva isso na realidade plenamente. Conheço sim pessoas, raríssimas, que vivem uma liberdade sobre o social admirável. São tão poucas que não posso nem trazê-las aqui salvo como exemplo que isso, com muita luta e força de vontade, é possível. Mesmo aqueles que construíram uma vida descolada dos valores e atitudes da grande massa, na minha opinião também se interessam pelo quê dirão, tanto assim que muitos tentam, insistentemente, mostrar o seu descolamento social.
Nós, seres humanos comuns, precisamos da aceitação social para viver no mundo. É isso, no meu entendimento, é saudável. Vivemos numa sociedade por opção, e isso exige convívio e o convívio exige aceitação. Quanto mais genuína for essa aceitação, mais tranquila a convivência será. Quer resolver uma questão, conviva. Não quer resolvê-la, se isole.
A aceitação numa sociedade emocionalmente mais desenvolvida, no meu entendimento, vem pela acolhimento da liberdade individual e com isso o acolhimento de opções diferentes de viver. Sempre haverão regras sociais para que esses humanos possam conviver com certa harmonia, mas a expressão do ser tem uma boa dose de autonomia.
O que outro pensa a nosso respeito tem tanta importância. Preste bem atenção no que vou te dizer: tem tanta importância que dedicamos uma vida inteira, a nossa, a construir o pensamento do outro sobre nós.
Muitas vezes podemos escolher nossos ‘grandes amores’ na tentativa de estarmos adequados ao mundo que queremos ser aceitos. Uma mulher ou um homem bonito ou feio. Rico ou pobre. Inteligente ou limitado. Viajado ou provinciano. Culto ou ignorante. Divertido ou sossegado. Animado ou apagado. Poderoso ou fraco. O nosso par diz muito sobre nós e nossos desejos de aceitação.
Diz muito sobre aquilo do que queremos ser salvos.
Reflita ao respeito. Amanhã tem mais. Boa segunda!
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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