Esta semana vários temas vieram no meu pensamento para pautar a reflexão desta semana e decidi pela onda de barbárie que temos visto nos últimos meses que, entendo, refletem o momento que a sociedade está vivendo: o finzinho do modelo antigo, e paralelamente o nascimento de modelos novos. Assim mesmo, no plural.


Muitos me dizem que nunca esteve pior… devo informar que sim já esteve, como sociedade estamos melhorando ao longo dos séculos. Crimes horrendos sempre existiram, mas hoje com a vida em tempo real, te acessando por diversos canais parece que tudo ficou mais potente.

Como sociedade andamos numa espiral ascendente, mesmo que pareça que estamos voltando para atrás na realidade estamos subindo, aprendendo e evoluindo. O movimento me lembra o trem que deixa Cuzco em direção a Macchu Picchu, no meu país Peru. Quem fez essa viagem sabe do que estou falando: num determinado momento o trem dá ré várias vezes para poder subir a montanha em curvas com cotovelos bem estreitos. Pode parecer que o trem está voltando, mas na realidade ele está subindo, subindo, subindo.

Tenho compreendido que quando grandes mudanças se instalam e novas estruturas começam a se formar, a resistência dos que valorizam o passado se torna mais contundente. O novo faz muitas pessoas andarem na trilha do medo. E como já refletimos aqui, o medo é terreno fértil para nosso lado sombrio tomar conta de nós.

Eu sempre prefiro apostar na nossa luz, não porque eu seja uma poliana resistente, mas porque quase 30 anos de pesquisa, ouvindo e estudando seres humanos, me comprovaram que as pessoas, nas sua imensa maioria querem optar pelo bem. Quando não o fazem, muitas vezes, é porque crêem que é necessário se proteger. Perderam a confiança. A dor causa isso de forma contundente. Para eles, amor para reconstruir a confiança. Amor lúcido: o amor que consegue enxergar toda a sombra e sua força, se defende, mas o faz na paz. É a arma do guerreiro pacificado.

E é este guerreiro pacificado que vejo surgindo de forma consistente na sociedade. Há, não tenho nenhuma dúvida, um desejo genuíno e consolidado de busca por valores mais profundos. A visão de mundo do que é bom, do que deixa uma vida feliz, mudou. Por fim, mudou.

Muitos de nós continua agindo no modelo antigo por inércia. Por incapacidade de saber como agir diferente. Alguns, vejo, parecem que acentuaram sua sombra, como se fosse uma resistência à mudança, que os domina e não conseguem controlar, superar. Muitos já estão se organizando para fazer a mudança que lhes permita viver de forma mais coerente com o que vem sentindo. Outros, simplesmente começaram a andar em direção ao novo. Sem tantos planos. O movimento humano é de andar.

Por causa de essa busca de valores mais nobres tenho lembrado de um entrevistado que tive em 2006. Um homem com uma história linda de vida, construiu sua fortuna no varejo começando aos 11 anos de idade e hoje conta com um grupo forte no nordeste. Histórias que este Brasil que empreende é capaz de produzir. Ele me disse, na época, nunca tinha visto tanto furto pequeno nas suas lojas. Antes, me dizia, que as pessoas tinha vergonha de roubar, mas hoje não. “Quando o líder de alguma forma menospreza o roubo, o furto, a contravenção; a vergonha se perde“. Pode parecer loucura mas é graças a essa perda de vergonha que estamos vivendo – e todos os efeitos que dela recorre – que por fim decidimos que não queremos mais o modelo antigo e estamos nos focando em valorizar valores mais nobres.

A sujeira está batendo no nosso quintal. Não está mais exclusivamente na cidade, na sociedade, no país; no nosso imaginário mas que aparentemente, não toca a nossa vida. Era confortável pensar desintegradamente e assim, por consequência, não assumir responsabilidades. Mas quando a barbárie começa a nos ameaçar, algo há de se fazer. A história mostra que sempre reagimos. O novo é que, uma boa parcela da classe média (alta e baixa), especialmente, está optando por reagir como guerreiro pacificado. Especifico essa classe econômica porque é ela que gera as mudanças.

Boa semana a todos!