Há momentos da vida em que aparentemente tudo está certo mas a gente se sente todo errado. As coisas começam a não se encaixar mais. Os lugares que costumavam te animar deixam de ser tão divertidos, as pessoas com quem você sempre se divertia parece que não tem mais graça. Os interesses mudam, porque você mudou e talvez não tenha se dado conta de quanto. Gosto de pensar nesses momentos como um momento de ruptura que abre infinitas oportunidades para nossa vida, nosso futuro. Isso mesmo infinitas; nós que depois vamos restringindo ao fazer escolhas.
Como estamos vivendo o movimento humano de desestruturação esse momento de ruptura está latente na vida das pessoas. Várias vem falar comigo sobre isso. As rupturas mais evidentes geram mudanças que em muitos casos costumam ser traumáticas e difíceis. Para estes, existe um tempo, como se fosse um limbo, em que se é necessário compreender o que realmente aconteceu para poder agir. Por conta de ter falado bastante sobre este tipo de ruptura nos últimos meses, escolhi falar esta semana sobre outro tipo, mais sutil, que vai acontecendo aos poucos. Neste caso há sempre alguns episódios marcantes que vão “rachando” nosso status quo, mas nem sempre são grandes traumas, grandes cortes. É como se fosse um desgaste dos elos que nos unem a uma determinada realidade que com o tempo vai ficando sem brilho até ficar bastante claro que o mundo ao qual estamos inseridos não faz mais sentido.
Nos meus trabalhos de campo aprendi que esses casos, a pessoa vai se conectando com sua essência, seu sentir, aos poucos; muito mais movida por uma inquietação interna do que por um trauma externo. O trauma externo, entendo, tem o papel de dar um choque para a pessoa acordar de um estado de desconexão profunda consigo mesma. Na ruptura que falo hoje, esse trauma não existe. Pelo menos não dessa forma. Creio que até podem ser pequenos traumas que vão sendo assimilados lentamente e quando nos damos conta, já estamos em outro estado de ser, bem mais integrados conosco mas desintegrados com a realidade que escolhemos anteriormente viver. E ai o desconforto e a desorientação.
Considero este momento um momento mágico, e se feito com bom humor e consciência, até divertido. Imagina você acabar de chegar num novo país ou mundo, se tua imaginação permitir, e nele precisa criar novos elos com todo a liberdade de ser uma pessoa diferente, mas de acordo ao teu sentir. Claro, precisa de coragem, mas como falamos a semana passada, a coragem tem a ver com a confiança, confiança em ti e em acreditar que tudo está certo.
A coragem também pode vir da consciência de saber que momentos como esse acontecem poucas vezes na nossa vida. É de tamanha potencialidade esse momento, que no mínimo é triste quando não o aproveitamos. Um dos nossos objetivos esta semana é te ajudar, te encorajar, para que você viva tudo o que você tem a viver se estiver atravessando essa fase. Lembra sempre que nesses momentos únicos da nossa vida, a frase o céu é o limite, nunca foi tão verdadeira.
boa semana, e coragem!
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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