Deveria ter começado o tema da nossa semana ontem, segunda-feira, mas meus dias andam lentos e estou me dando o direito a recobrar aos poucos a vida. Como comentei no meu post O último legado de nossos pais: acompanhá-los no fim da vida, o desgaste de cuidar dos pais no fim da vida, é maior do que imaginamos.
Somente agora estou sentindo o cansaço e meu corpo manifesta o estresse que enfrentou nos últimos anos. Graças a Deus, tenho a Isabela, minha companheira neste blog, que assumiu os temas neste período. Mas esta semana decidi recomeçar a escrever e quando estava começando, recebi uma mensagem dela, me avisando que seu pai acabava de partir. Com menos de um mês de diferença da minha mãe, estávamos passando pela mesma situação. Por isso decidi deixar o mental de lado que me dizia: escreva, o blog não pode parar; e decidi respeitar nosso tempo de luto.
Fiz isso porque acredito que as coisas têm seu tempo para acontecer. Que nossos corpos físico, mental, emocional e psíquico precisam da sabedoria do tempo para operar normalmente após um trauma maior. Tempo para se reorganizarem. Tempo para assimilar tantas informações e deixar a adrenalina abaixar. Tempo para se re-estabelecer. Isso é o que significa para mim, o tempo de luto.
Pena que a vida moderna que nos impomos nem sempre permita isso. Mas a Isa e eu nos permitimos. Dentro dos limites de nossas obrigações e compromissos, nos permitimos. Sei que há situações, empregos que isso não é possível. Mas também sei que muitas vezes cedemos à vozinha mental que nos diz: “Não deixa a peteca cair. Seja forte. Demostre que você está bem“.
Neste momento em que o bem mais precioso, além da saúde, é a felicidade, ficar triste parece um pecado, um defeito. Na busca da tal felicidade, não nos permitimos viver a dor da tristeza; tão necessária para equilibrar e reconhecer o melhor da alegria. Não respeitamos o tempo de luto, fundamental para o recomeçar.
Chorar, como fiz hoje com uma amiga ao telefone lembrando da minha mãe. Ficar quieta, sentir saudades. Que bom que posso viver tudo isso. Que bom que posso me abrir para o carinho e amor dos ombros amigos, dos peitos abertos para um abraço, tão queridos, tão próximos.
Nosso blog está de luto. Homenageando nossos pais, e respeitando nossa dor.
Boa semana para todos.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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