Hoje passei o dia todo com a minha mãe que está bem fisicamente, mas com a memória bastante debilitada. Fomos visitar meu pai duas vezes na UTI e, agora à tarde, paramos o carro um pouco afastado do hospital. Tivemos que atravessar algumas ruas e achei perigoso deixá-la “sozinha”. Peguei na sua mão para seguirmos juntas e, nesta hora, me lembrei do que disse a Nany esta semana sobre a inversão de papéis: filhas tormam-se mães.
Quantas vezes minha mãe não pegou na minha mão para atravessarmos a rua quando eu era pequena! Durante anos este foi o nosso ritual. Hoje, me transportei até as minhas memórias de infância neste gesto de proteção.
Lembrei também de quantas filhas eu já vi cuidar das suas mães. A mais emblemática, para mim, foi minha madrinha. Durante anos eu frequentei a casa em que morava apenas as duas: mãe e filha. A senhora, mãe da minha madrinha, era uma mulher muito forte. Lembro-me de quantas broncas vi a filha dar na mãe. Naquela época eu ficava um pouco assustada, pois eu era criança e achava aquela inversão perturbadora. Para mim, a minha madrinha tão legal comigo, era uma mulher muito nervosa! Hoje entendo…. Não era nada disso. Tratava-se de um amor incondicional.
Minha madrinha passou a vida toda cuidando da mãe. Desde que o pai morreu, tragicamente, quando ela era adolescente foi assim. Ela trabalhou, venceu na vida e nunca teve muito tempo para pensar nela. Era filha única e aguentou firme, ainda mais depois que a mãe envelheceu. Nunca a vi reclamar, se lamentar por isso. Simplesmente cuidava daquela mãe como se fosse sua filha. Nada mais.
Depois que a mãe se foi, ela já tinha uma certa idade (quase 60 anos), começou a curtir a vida. Casou com um senhor viúvo, viaja constantemente, se diverte. E com certeza deita na cama todas as noites com a sensação de que vez a coisa certa. Especialmente quando era firma com a mãe. Não foi fácil para ela, mas é maravilhoso poder contar esta história e encher o coração de muita serenidade por ter exemplos tão lindos a minha volta.
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