O debate sobre a importância que as mulheres dão à aparência ainda está longe de acabar. A busca, em alguns casos, incessante pela magreza e a beleza, tem levado muitas mulheres a fazerem desatinos colocando em risco sua saúde física, mental, emocional e financeira. Por isso, não é a toa que existam aqueles que considerem a exposição massante nas mídias de mulheres belas, jovens e magras como formas modernas de manipulação social e psicológica de mulheres. Para algumas linhas feministas, tudo orquestrado pelo poder masculino que não se conforma em ter perdido sua majestade.
Sem dúvida, a mídia é exaustiva quando mostra como a beleza de fato conquista sucesso – e aqui considerando o ‘sucesso’ vendido por ela, aquele que é composto de dinheiro, fama, poder, pessoas bonitas e felizes que nos amam muito. A mídia também diz como essa beleza deve ser, padronizando tipos e estilos, sempre sob o pretexto de nos ajudar a ser ‘nós mesmos’.
É evidente que tantas mensagens midiática têm seus efeitos sobre as mulheres e que muitas entrevistadas no Projeto Mulheres, trouxeram algum tipo angústia relacionada à aparência física. Assim, a busca pela beleza e magreza pode tornar-se, só para dar um exemplo, mais um check list a ‘ter’ que cumprir, na vida de quem tem «mil e uma obrigações», e que não vive o ‘discurso igualitário’ na vida real. Mal dá tempo para fazer as obrigações prioritárias, e ainda precisa se cuidar fisicamente, sob o risco de ser recriminada socialmente por não representar ‘a mulher que se ama’, leia-se a mulher moderna.
Porém, foi impressionante constatar que a busca pela beleza – mesmo midiática – ajudou muitas mulheres na últimas décadas a superarem desafios e dores. Significou, em muitos casos, a oportunidade de retomar, iniciando pelo físico, seu tempo, seu corpo, seu espaço, sua vida. Foi através do físico – caminho muitas vezes mais fácil e acessível – que as mulheres foram encontrando novas formas de expressão e de gosto pela vida. Foi no espaço da beleza que muitas mulheres encontraram outras mulheres e com isso histórias similares e formas de trocas que contribuíram, em muito, para a superação.
E foi também no exercício de se embelezar, que mulheres focadas na sobrevivência financeira ou em se colocar no mundo do trabalho, até pouco tempo atrás, preponderantemente masculino, começaram a lembrar que eram mulheres. Começaram a redescobrir o prazer de se maquiar, de se cuidar, de voltar a ser mulherzinhas. No cuidado com a pele, encontrou o tempo, para parar e fazer sua ‘meditação ativa’, extraindo desses momentos, mais do que uma beleza física.
Quem sabe o cuidado com a beleza também pode ter contribuído, de alguma maneira, para que as mulheres decidissem que era hora de parar e ser mãe de novo? São tantos fatores que se entrelaçam que fica difícil definir qual foi a origem do que, e também não existe a pretensão aqui de fazer essa exposição mas sim de mostrar que a beleza tem tido um papel muito importante na retomada do feminino pelas mulheres.
Mesmo que tenha sido uma pressão social o ponta pé inicial, no exercício da prática, algo talvez adormecido começou a aflorar, aquela mulher mais feminina apareceu e começou a tomar conta de outras dimensões além da beleza, do físico. É só olhar em volta e acompanhar a moda mais floral, com seus vestidos, sejam estes longos ou curtos, exagerando nas rendas, tricot e bordados. Tudo isso, é claro, acompanhado pelos sapatos de plataformas e saltos altíssimos, para nos lembrar que feminina sim, mas poderosa e dona do seu destino, também.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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