Tem coisas que não se explicam. Elas acontecem na vida da gente e simplesmente agradecemos. Foi assim com a Carmen, que eu batizei de Carmencita logo que a conheci.
Ela entrou na minha vida há pelo menos vinte e seis anos, numa simples reunião de jovens empreendedores em Curitiba. Lembro da presença dela. Lembro do olhar tímido apesar do sorriso largo. Lembro da sua beleza. Ela estava ali, querendo não estar. Carmencita nunca gostou do networking pelo networking. Ela realmente se importava com as pessoas. E com isso, conquistava amigos e negócios.
Nem sei como ficamos tão amigas. Gostos diferentes, idades diferentes. A nossa amizade pouco se pautou em gostos similares, lazeres compartilhados. Era uma amizade embasada na troca. Troca de experiências de vida. Experiencias de vida diferentes que abriam possibilidades para a outra. Troca sobre sonhos que morriam antes de nascer e de vitórias muito desejadas. Troca sobre desilusões amorosas e de paqueras divertidas que provavelmente a outra nunca viveria.
Fomos ficando mais velhas e a busca pelo autoconhecimento e desenvolvimento criou um outro elo entre nós. Nos falávamos pouco ao longo de cada ano. Creio que para compensar a profundidade de cada encontro. Os temas, sempre íntimos e relevantes, nos mantinha nutridas até o próximo encontro. Mesmo que acontecesse vários meses depois.
Há amizades que precisam da frequência. Há outras que só precisam de profundidade. A nossa era a última. A sua presença em minha vida era vital. Ela ajudava a me lembrar quem eu tinha sido. A não me perder muito de mim na medida que ia me transformando com os anos. Creio que amizades antigas têm esse papel.
Um dia soube que ela adoeceu. Acompanhei sua luta passo a passo. Estive próxima dela como nunca nesses vinte e seis anos. Viví seus medos e suas angústias. Suas conquistas e suas dores. Queria ser a força que ás vezes dizia lhe faltar. A calma que tirasse seu medo de partir.
Agora ela partiu. Sinto dentro mim um esvaziamento. Deve ser pela tensão das últimas semanas. Deve ser porque parte da memória de quem eu sou, se foi com ela. Deve ser porque não poderei mais ver de olhos abertos o seu sorriso largo de olhos tímidos. Eu sei que ficam as memórias. Por enquanto, é só o vazio.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
3 Comments
Nany só quem viveu uma história com ela saberia entender o que vc escreveu. Maravilha de telhado. Me sinto privilegiada por me encontrar num abraço gigante, aí mesmo tempo com um riso lado dela. Tem sido muito esses dias, mas nossa sacerdotisa volta a essência real dela, luz e amor. Acredito um dia ver de novo obrigado olhar tilintante dela... Saudade e só... Por hora.
Nany só quem viveu uma história com ela saberia entender o que vc escreveu. Maravilha de relato. Me sinto privilegiada por me encontrar num abraço gigante, aí mesmo tempo com um riso lado dela. Tem sido muito esses dias, mas nossa sacerdotisa volta a essência real dela, luz e amor. Acredito um dia ver de novo obrigado olhar tilintante dela... Saudade e só... Por hora.
Isso mesmo Paula, compartimos o amor, alegria e fé que tanto nos uniu com ela
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