O título deste post foi a pergunta que abriu o bate papo que minha querida Andréa Bisker e eu conduzimos na 1a Confraria dos Repensadores de 2017 a semana passada.
Todos estamos vivendo um momento de transição de valores e crenças há uns bons anos. Sabemos que as mudanças são profundas e estão levando a sociedade para caminhos pouco conhecidos e, o que é pior, que elas chegaram à nossa mesa de jantar. Compreendemos já que não tem como fugir. Muito de nós vem estudando, lendo, ouvindo e discutindo para se informar e entender melhor o que se está passando no mundo. A cada palestra assistida, a cada livro lido, a cada workshop participado a experiência nos leva para a melhor compreensão daquilo que já sabemos. Vivemos reafirmando que precisamos mudar e não o fazemos. Porque?
Acredito que o motivo primário seja o medo da falta. Nossa mente é capaz de criar realidades de toda espécie, e quando se refere a nos prevenir, ela é experta o suficiente para criar aquela que mais nos apavora. Independente de qual seja a falta que mais te assusta, o medo de não ter, de não dar conta de uma necessidade, supera a tua consciência da urgência da mudança.
Como segundo motivo identifico a consciência que estamos adquirindo que para realizar a mudança teremos que modificar a referência de nós mesmos. E é aqui que creio estar o maior nó. Fomos criados numa sociedade hierarquizada na qual o possuir era parâmetro de sucesso. O escalar hierarquias corporativas significava inteligência e brilhantismo. O empreender grandes e importantes negócios significava relevância social. O high society era o parâmetro do que era ser lindo e feliz. A nossa imagem tanto social como pessoal esteve, e ainda está, associada a estes modelos sociais. Podíamos aceitar que eles estavam longe de nós e buscar posições alternativas, mas aqueles ícones continuavam guiando a nossa avaliação sobre nos mesmos e sobre os outros.
Talvez em resposta à insatisfação que não calava dentro de nós, fomos valorizando o sentido de felicidade nestes tempos modernos e isso nos trouxe um olhar mais filosófico da nossa existência. Começamos a desmistificar o high society e tudo que esse reino distante representa, mas ainda, no momento delicado e frágil que nos colocamos perante o outro, são esses parâmetros, que nos trazem segurança ou nós tira ela.
Sabemos que temos que fazer escolhas: ou trabalhamos bastante e ficamos sem tempo ou temos tempo com menos recursos. Muitos de nos estamos praticando a diminuição do ter, diminuindo a ambição. Encontrando caminhos alternativos mas como ainda queremos a aprovação social, e a sociedade quando se coloca no seu papel julgador usa sempre o estabelecido naqueles parâmetro antigos mas que estão vivos em nós, nosso sentido de mérito pelo vida que levamos e criamos a nosso redor Mas ainda queremos para ter e viver a vida que sonhamos ou vivemos com menos para
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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