Anos atrás quando ainda frequentava academia, lembro de uma senhora (bem senhora) que fazia uma aula inteira de spinning ou aeróbica super bem disposta e com mais energia do que muitos jovens. Ela tinha um corpo magro e musculoso, mas flácido e enrugado. Sim. Flácido e enrugado como qualquer senhora de 60, 65 anos. Não estou falando isso como julgamento, pelo contrário, estou relatando um fato. Mas certamente ao ouvir as palavras “flácido”e “enrugado” você deve ter sentido um desconforto. O fato é que nós não lidamos bem com a ideia de que um dia teremos rugas e um corpo flácido – não importa o que você faça. Nossa aparência deixará de ter o frescor da juventude e passará a ter as marcas de uma vida toda, suportada pelo aspecto físico do desgaste. Parece um cenário bem negro, pois não queremos nem pensar no assunto. Acredito que a senhorinha da aeróbica não se incomodava com isso, pois ela não deixava de vestir roupas que deixavam a mostra os sinais do tempo no seu corpo. Mas cansei de ouvir pessoas comentando coisas como:
Que feio, Será que ela não tem vergonha?, Por que ela se expõem assim, Será que ela não percebe?
Difícil não perceber diante de um espelho enorme, comum nas academias, não é? E quem tem vergonha esconde. Não era o caso dela. Portanto o problema, pensava eu, é de quem olha e não de quem é. Com o tema desta semana lembrei da mulher da academia, pois ela me parece um bom ponto de partida para refletirmos o que sentimos a respeito do nosso corpo e seus sinais de envelhecimento. Sou muito a favor da vaidade. Equilibrada e consciente creio que só faz bem. Minha experiência pessoal é que se você estiver feliz e segura com o que você é por fora, isso te ajudará a encontrar respostas dentro de si (embora o conceito mais aceito seja o inverso: se você estiver bem dentro aceitará e amará o que você é por fora). Pelo menos a minha busca foi marcada pelo contrário: quando encontrei um estilo fora, consegui me encontrar dentro também. Além disso, se cuidar é mais do que uma questão de vaidade. É saúde e bem-estar. Mas certamente o bom-senso aqui também é fundamental, pois o natural sempre será mais belo do que o plástico, falso e artificial. E mesmo quem busca a juventude a qualquer preço, passando do limite do artificial, muitas vezes, se depara com uma verdade bem cruel: não há tratamento ou dinheiro que possa parar a ação do tempo no seu corpo.
Não é fácil aceitar isso, eu sei. Tenho linhas de expressão bastante profundas na testa e entre os lábios (o famoso bigode chinês). Chamo-as de rugas da juventude, uma vez que desde muito menina elas insistem em marcar meu rosto. São frutos do hábito familiar de enrugar a testa e de ter sempre um sorriso na boca (doce ironia seu rosto ser marcado pelo seu sorriso quase constante – adoro brincar com isso!). Uso botox e preenchimento para amenizar o efeito. Fiquei feliz quando decidi fazer estas aplicações, mesmo tendo uma série de dúvidas e receios a respeito. Me senti melhor e com uma cara menos cansada. Obviamente me preocupo em fazer estes procedimentos com muita moderação. Às vezes me vem uma pergunta: “E, se um dia, por acaso, não conseguir mais fazer?” Pois decidi que vou dar um jeito de aceitar minhas “ruguinhas” de volta, afinal, elas estavam ali já aos 20 e pouco anos.
Isso me fez lembrar da minha mãe que começou a ter cabelos brancos lá pelos 50 e poucos anos. Ela gosta de dizer que a gente tem que aceitar o envelhecimento do corpo com sabedoria. Talvez para cumprir esta sua afirmação, resolveu que deixaria os cabelos grisalhos naturalmente. Não iria pintá-los. Vi minha mãe de cabelos “cinza” até os seus 60 e poucos anos quando um dia, do nada, resolveu mudar de ideia e os tingiu. Ficou muito bonitinha. Agora, quando a vemos nas fotos da sua fase grisalha, brincamos: “Olha mãe, esta foto é do tempo que você era velhinha”.
Uma reflexão final para que você possa sentir como lida com o fato de que seu corpo vai, não importa o que se faça, se deteriorar ao longo do tempo. Uma vez estava em Mauá, almoçando no trailer de um lendário cubano que está lá há anos. De repente, no meio do restaurante, ele levanta-se, bate na barriga e diz: “un hombre sin panza es un hombre sin historia” (desculpe-me meu péssimo espanhol!). Pois eu adaptei as palavras do senhor bonachão de bem com a vida para: um homem sem rugas é um homem sem história. E não é?
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