Uma coisa é certa: todos nós estamos envelhecendo e minha grande dúvida é saber como uma sociedade com culto à juventude irá lidar com isso.
 
O movimento humano não quero envelhecer é produto de uma constatação clara e nua que o envelhecer traz: a deteriorização do corpo físico. E, pelo que observo, a grande maioria não está pronta para isso.
 
Assim surgem diversas ramificações desse movimento, desde mudar de nome – melhor idade ao invés de velhice – até de produtos e terapias que prometem que o corpo físico, tanto externo quanto interno, poderão manter a juventude por tempo quase indefinido. Obviamente cada um escolhe a forma de lidar com suas resistências, a minha sempre é de tentar encarar tudo com a maior lucidez e amorosidade que me é possível.
 
Essas alternativas de lidar com a velhice ajudam a assimilar as restrições da idade de forma mais positiva, já que, se está na melhor idade e cuidando do corpo com exercícios, vitaminas ou intervenções cirúrgicas a tendência é de não se entregar ao lado ruim da idade avançada. Portanto, não as vejo de forma negativa, mesmo que nelas hajam, as vezes, uma tentativa de não querer enxergar uma realidade latente.
 
Dentro das faixas etárias que estudamos há um grupo bem interessante em relação a este tópico: são (somos) o grupo de 40 a 60 anos de idade. Estes ainda estão a todo vapor na sua produção, sentindo-se bastante jovens e produtivos sem a ansiedade típica da juventude pós adolescente. Os de maior renda, conseguem desfrutar de coisas nobres da vida: viagens, boas comidas, espetáculos, passeios, bons médicos, bons tratamentos.
 
Este grupo está trazendo para as gerações posteriores exemplos de viver bem ainda nessa idade. E digo ainda, porque até a pouco tempo atras usávamos a expressão “esse cinquentão” para definir alguém bem mais velho do que nós. Quase um ancião. Talvez seja porque estou chegando aos 50, mas a impressão que tenho é que há muito caminho pela frente. Portanto estamos modificando a associação das faixas etárias ao conceito de velhice. Mas ainda não estamos trabalhando o conceito da velhice dentro de nós.
 
É difícil para a maioria de nós ver um velho, com suas dificuldades motoras, comendo ao nosso lado. Até a palavra velho, evitamos de usar porque parece um insulto. O que sentimentos a imagem do velho comendo com dificuldade traz para cada um de nós?  
 
É sobre isto que iremos falar esta semana, a convivência com a velhice e suas conseqüências em nós.
 
Boa semana a todos.