Há um bom tempo descobri que a informação traz conhecimento que gera consciência. E com consciência você consegue fazer escolhas com maior lucidez. Claro, tem pessoas que não desejam esse grau de consciência, preferem partilhar a responsabilidade de sua vida com o mundo. O livre arbítrio está ai para isso, não é mesmo?
Esta semana vamos falar sobre integrar que é um conceito muito discutido hoje nas ciências humanas. Integrar é uma resposta à divisão que fizemos nas nossas vidas. É um fato que acostumamos a ver a vida de forma binaria (feminino – masculino, criança-adulto, branco-negro, rico-pobre, bonito-feio… e assim vai). A visão binaria contribui com a competição e a hierarquia. E a hierarquia no fundo tem a ver com exercício de poder, considerando aqui poder, não como potencialidade de ação mas sim como poder sobre os outros. Aliás mesmo fugindo um pouco ao tema do nosso blog não consigo evitar trazer outro ponto para reflexão: muitas dos movimentos e entidade que lutam pela igualdade de classes – partindo de uma visão binária – incentivam mais, no meu entendimento, a raiva da separação. Creio eu, e ai meu ponto a refletir, seja porque eles sobrevivem da separação, da luta. Se a luta acabar, o que será deles? Antes de voltar ao nosso tema de hoje, deixo bem claro que sou totalmente a favor da isonomia (igualdade perante a lei).
Bom voltando ao tema, vários movimentos, desde a década de 60 especialmente, tem alertado para despertar em nós a visão holística cuja proposta é observar o todo e um ponto como parte desse todo. A consciência da possibilidade de uma visão holística nas nossas vidas, nos ajudou a chegar onde chegamos, como estar discutindo este tema hoje no blog, por exemplo. Quando você desperta a visão holística em você se faz necessário a integração das camadas existentes em você e na tua vida, originadas pela antiga visão binária.
Em função do movimento humano, desejo de integrar, começamos a diluir os limites das camadas separatórias nas nossas vidas. Hoje se discute muito os aspectos públicos e privados de cada um. Compreendendo o espaço público como o local onde vivemos um papel social mais formatado – trabalho, rua, ambientes públicos em geral – e espaço privado com o local mais intimo, como nossa casa, nosso núcleo familiar.
A ideia dessa separação é que no espaço público representamos mais, é nosso palco diário. E no espaço privado somos mais autênticos, mais nós mesmos. Bom, hoje fala-se muito em integrar essa ‘persona’ que criamos para lidar com o espaço público com a pessoa que somos para assim vivermos de forma mais genuína. A intenção é que se formos mais genuínos seremos mais felizes. Esta uma crença que está se consolidando.
O Jung disse que o homem avança no seu desenvolvimento em aspiral ascendente, indo de ponta a ponta, sempre subindo, mas indo de um extremo a outro na tentativa de corrigir os erros do estado atual. Sendo assim já que a separação – visão binária – não nos trouxe toda a felicidade que imaginávamos ter, estamos indo para a integração – visão holística – na tentativa de achar o pote no fim do arco iris.
Cada vez penso mais que o caminho do meio, que o oriente antigo tanto fala, embora hoje em dia lá também tenham se perdido na sua caminhada; é um caminho mais restaurador. Devo reconhecer que é difícil andar no meio sem ter experimentado os extremos. Mas a questão para refletir esta semana é a integração versus a separação.
É válido para nós integrar? O quanto você quer ser o tempo inteiro como você é, ou acha que é, mesmo no espaço público em detrimento dos valores dos outros, do que é importante para os outros? Será que isso não é auto-importância acima do limite? Ou seja, será que isso não extrapola o limite do outro? Penso que o espaço público é um espaço para todos. E para todos poderem conviver de forma saudável existem regras mínimas de convivência. Isso, na minha opinião, não é prisão nem se subjugar. Isso, é você compreender que você não é um ser único na terra e que aceitar o outro e sua expressão de vida, seja ela qual for, também é aceitar a você como parte desse todo.
Por um outro lado, quem separa o tempo inteiro a persona da pessoa, será que partilhar teu ser em vários ‘seres’ te deixa feliz? A final, você sabe quem é você? Entende de você, do que você gosta, do que te faz feliz, do que você não gosta? Você consegue saber quando para de atuar e começa a ser você de verdade? E a ideia aqui, parte de uma crença nossa que sabendo VOCÊ quem VOCÊ é, há mais chances de encontrar um caminho que te deixe mais pleno, satisfeito e com isso alcance, se não o pote no fim do arco iris, pelo menos uma tranquilidade e leveza para caminhar neste mundo complexo.
Gostou do tema? mexeu contigo? tem mais durante semana.
Boa semana a todos.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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