Por conta da festa de Halloween que invadiu esta semana nossos timelines, fiquei pensando na prática de rituais que vem acompanhando nossa humanidade há milênios. Tenho amigos e familiares de diversas crenças religiosas; amigos e conhecidos de diversas nacionalidades e sempre que posso, gosto de acompanhar e conhecer os diversos rituais que são praticados em cada cultura, em cada religião. Aprendi que entender os rituais ajuda a entender um povo, uma sociedade.
Concordo com os estudiosos que acreditam que mitos e ritos são fundamentais para nossa saúde física, mental e espiritual. Os mitos, como diria Joseph Campbell, são meio verdades, meio mentiras que nos ajudam a lidar com questões profundas, a lidar com tópicos que ainda não estão resolvidos dentro de nós. Os ritos, por outro lado, nos trazem para a “terra”, para o aqui e agora, nos obrigando a parar e lembrar do tempo e espaço em que nos encontramos. E, especialmente, de onde viemos.
Quando fazemos e participamos de um ritual, cada símbolo traz para perto de nós, todo um universo carregado de significados que nos nutre e alarga nosso sentido de vida. Dá textura e profundidade. No ato ritualístico cada gesto, cada elemento, cada palavra ou cada silêncio, carregam em si muita história. Muitas lembranças afetivas coletivas e individuais.
Quando cheguei ao Brasil, fui morar na então mediana e europeia Curitiba. Graças a uma querida amiga de origem ucraniana participei por vários anos da Páscoa que a comunidade ucraniana realizava no Memorial Ucraniano. Os cheiros, as cores, as emoções nos transportavam à própria história desse povo que veio parar no sul do país fugindo de uma guerra longe, muito longe de ali. Tenho certeza que comprender essa história me ajudou a entender melhor o povo fechado curitibano.
Uma das festas que há anos me chama a atenção é a Festa dos Mortos no México. Embora nunca tenha estado lá nesse período do ano, desde minha primeira visita ao México, as Catrinas e as caveiras com suas cores, me fascinaram. Sabiamente os mexicanos celebram sem constrangimento essa festa que honra os seus seres queridos que morreram. Acreditando que vida e morte são parte de uma mesma roda, assim, honrar os mortos também lembra que a vida continua e é valiosa.
Mesmo com a vida agitada, no momento do ritual, especialmente quando ele é coletivo, tudo para ao nosso redor. Ao nos conectar com o espírito do ritual, lembramos do que nos trouxe até aqui e o que nos une como sociedade, como comunidade, como país ou como família. Centrados novamente naquilo que é nossa amálgama podemos escolher, com maior propriedade, o que é importante para seguir em direção ao futuro.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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