Lembro de um amigo me contando uma recente viagem que ele fez com uma pessoa com quem estava saindo. Era uma relação que vinha acontecendo há alguns meses. Sem grandes compromissos assumidos, a relação se mantinha em grande parte devido à utilidade que tinha para meu amigo. Morando fora de São Paulo e vindo para a cidade semanalmente, a relação fazia com que sua estadia fosse menos solitária. Especialmente nas noites que não arranjava companhia melhor.
Para ele era bom estar com essa pessoa mesmo que quando se despedia, ia embora com vontade de ir. Com a sensação de que o tempo vivido juntos tinha sido mais do que suficiente. Não era desagradável ao ponto de não querer ver mais a pessoa, nem agradável o suficiente para querer aprofunda-la. Algo que ele fazia questão de deixar claro para evitar gerar mais expectativas que pudesse atender.
Nesse momento que o convite para viajarem juntos aconteceu. Ele aceitou. E é claro que foi uma viagem horrorosa para ambos.
Quando conversamos sobre a viagem, não pude deixar de perguntar por que tinha aceitado viajar por uma semana, sendo que dois dias era o máximo que ele sentia prazer em estarem juntos. A conclusão que chegamos foi simplesmente interesse e uma certa preguiça em resistir.
No quarto dia, já sem paciência para aturar a pessoa ao lado, começou uma série de atitudes e comportamentos que beiraram o desrespeito. A sua irritação com ele próprio de estar preso nessa situação era tamanha que não conseguia evitar jogar esse sentimento contra a pessoa. Mesmo sabendo que estava sendo injusto.
Fiquei pensando por que nos colocamos numa situação dessas? Por que aceitamos uma “vantagem” cujo preço será alto demais para pagá-lo de forma correta? Esses questionamentos se aplicam aos dois personagens desta história. A pessoa que fez o convite sabia que meu amigo não estava envolvido o suficiente. Já tinha notado a sua mudança de humor quando ficavam mais de dois dias juntos. Então, por que o convidar para uma semana juntos?
O lugar era lindo e foi usado como arma para convencer meu amigo. Tem como dar certo? Difícil. Um lugar lindo ajuda uma relação linda a crescer. Insistir numa relação fria e distante, mesmo no lugar mais bonito do mundo, costuma ser perda de tempo, de dinheiro e, infelizmente neste caso, um pouquinho de dignidade. Querer ser amado por quem não nos quer, é sempre o pior investimento.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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