Você deve conhecer ou, quem sabe, até ser a protagonista deste texto: mulher bonita, inteligente, com boa dose de autoconhecimento. Vive com conforto, graças à luta constante para manter o mesmo padrão que insiste em cair. Madura e consciente, pensa com atenção nos cinquenta, que em poucos anos chegarão. Divorciada, tem que administrar seu tempo livre a maior parte do ano para não deixar os filhos sozinhos, especialmente em datas especiais, já que o ex-marido, mesmo com guarda compartilhada, considera que um final de semana por quinzena e pagar pensão sejam suficientes para continuar a ser pai.
Extrovertida e divertida, conseguiu ao longo dos anos bons e amorosos amigos. Pessoas com quem tem uma vida social agradável e animada. Foi com eles que passou o Réveillon passado. Frente ao mar, pulou as sete ondas – não custa nada – e fez seu pedido. O mesmo dos últimos anos: um companheiro.
O que faz mulheres interessantes e resolvidas dessa faixa etária estarem sozinhas mesmo querendo um companheiro? Boa parte dessa pergunta se responde de forma simples: boa parte dos homens da mesma faixa etária disponíveis não querem um relacionamento romântico-companheiro com mulheres assim.
O homem, tanto quanto a mulher, quer uma relação romântica. Ambos consideram que a vida a dois é melhor do que só. O que os diferencia nessa questão é a forma como essa relação deve se desenvolver. Mulheres com esse perfil exigem e cobram mais. Se colocam com maior propriedade. Questionam e discutem. E é isso que os homens, a maioria com a experiência de um casamento desfeito nas costas, querem longe deles. Basta a ex-mulher, como me disse um entrevistado para o Projeto Uno.
Para os homens na meia idade (45 a 55 anos) a nova relação precisa ser mais prazerosa. Pelo menos é o imaginário que carregam. Muitos acreditam que estão na faixa etária para começar a desfrutar mais a vida. Ou pelo menos torna-la mais leve. E leveza não é o melhor adjetivo para definir as mulheres que descrevi acima.
Enquanto a desfrutar a vida, homens e mulheres querem mais prazer nas suas vidas. Poder fazer mais atividades que lhes dê prazer. A grande questão para homem da meia idade, é que as atividades de prazer são as que dão prazer a ele e a mulher deveria acompanhar. Como se o prazer dele, desse prazer nela por osmose.
Estamos nos referindo a uma geração de homens com fortes traços machistas de formação. Este homem foi criado para ocupar um lugar de privilégio social e familiar. Por conta disso, mesmo inconsciente, acredita que a vida familiar deva girar em torno dele. Inclusive o lazer e prazer. Já sua companheira de faixa etária – pelo menos a que responde as características que descrevi logo no início – conseguiu quebrar, pelo menos em parte, as crenças machistas. A busca por uma relação mais equitativa faz parte de sua nova forma de viver.
Quando ouço mulheres como as que descrevi, costumo me perguntar se haverá solução para esse impasse. Considero que é um dos segmentos mais difíceis de estabelecer relacionamentos românticos duradouros nos dias de hoje no Brasil. Talvez essa mulher precise baixar as expectativas, mirar outra faixa etária ou esperar que numa de suas viagens encontre um estrangeiro com uma cabeça mais aberta.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
5 Comments
Adorei .... me vi nessa mulher e vivo a solução do final do texto, nesses últimos anos. Parabéns!!!! Beijos
Patricia é impressionante como essa mulher está cada vez mais comum. É um desafio para todos nós as relações nessa faixa etária. beijos
Nany, sempre com palavras doces para explicar os comportamentos humanos. Me identifiquei! Mostrei para uma amiga que precisa lhe conhecer por conseguir traduzir também em palavras os nossos sentimentos. Vou combinar contigo. Parabéns pela reflexão. Beijão! Rê
Querida Renata, te agradeço as palavras. Vamos combinar sim. beijo grande
Gracias Rê!
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