Em tempos de busca pela equidade entre gêneros, a luta é fundamental. Não se rompe um sistema de crenças sociais sem que haja confronto. A história é clara sobre isso. Estava em Portugal no dia 8 de março, quando celebramos o dia Internacional da Mulher. Igual que no Brasil, o feminicídio esteve reinante nas mídias de lá. Ver e ouvir casos e números gera revolta e incômodo. Sem dúvida.
Tem gente que não gosta desses temas porque acredita que gera mais agressividade social. De certa forma, estão certas. Quando vem à tona, a agressividade fica mais exposta. O que devemos entender é que a agressividade e o espírito de luta fazem parte do momento social de mudança de valores e crenças. Inevitáveis e necessários. O que devemos ter atenção é não confundir espírito de luta com o prazer pelo conflito.
Tem gente que gosta de guerra. Tem a crença que vida é uma luta sem fim por direitos a serem adquiridos. Essas pessoas, quando não possuem uma visão pessimista da vida são perfeitas para gerar mudanças, porque agem com vigor. Conheço várias pessoas assim. São movidas pela luta e desafio. Se a questão é resolvida, vão lutar em outros campos. Elas ajudam à sociedade a mexer o status quo imperante. Admiro a força e determinação.
Dentro desse grupo que gosta de guerra, há os que têm prazer pelo conflito. Buscam e praticam o conflito pelo conflito. Perderam, há muito tempo, o motivo que os levou à guerra. Adoram entrar nas pequenas batalhas e se perdem nelas. Para elas, o que importante é vencer. A causa? O motivo? São pretextos para satisfazer o seu bem maior: o próprio ego.
Estas pessoas exercitam o conflito pelo conflito porque estão na energia do Poder Sobre. Aquele poder que precisa do vencido para se sentir vencedor. Aquele Poder, que apresentei no Movimento Humano Poder Isonômico, e que tem como base se posicionar acima de algo, de alguém, para se sentir com poder.
Infelizmente vejo constantemente o prazer pelo conflito nas relações românticas – afetivas. Existem pessoas que acreditam, realmente, que as relações amorosas precisam ser conflituosas para existirem. Às vezes, acredito que existe uma satisfação grande em terminar o dia com alguma batalha vencida, ou à vencer. Tudo é motivo de discussão. Com o pano de fundo que a luta pela equidade de gênero trouxe, os casais, usando como bandeiras o respeito e a igualdade, andam brigado por pequenas coisas com o peso de grandes lutas.
Importante refletir se a luta é por uma guerra maior entre o casal – maior respeito, maior amor, maior justiça e igualdade de direitos – ou se é pelo prazer ao conflito. Pelo desejo de se sentir vencedor. Se esse sentimento alimenta o ego – quando ganha ou quando perde. Se ganhar o faz se sentir melhor e forte. Para colocar a energia no lugar correto, devemos sempre lembrar, que na Guerra do Amor, não há um só vencedor. Caso aconteça de somente um vencer, é porque os dois perderam.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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