Como ser uma pessoa de mais de cinquenta anos num país que valoriza a juventude? E quando falo juventude, me refiro a jovem, bem jovem. Tanto no espírito como no aspecto físico. Esse traço cultural é fácil de compreender quando se sabe que o Brasil, é um país preponderantemente jovem. Como tempo de história que tem como país, e, como idade média da sua população (no último censo do IBGE, mais da metade da população brasileira tinha até vinte e cinco anos).
Numa cultura do corpo e atitude jovem como referência, chegar aos cinquenta parece a entrada para a velhice. Os sessenta, estão, logo ali. Começamos a observar com um outro olhar os sinais sociais para a terceira idade. Claro que o envelhecimento é um processo. Desde os quarenta, a ideia de “ir ficando velho” vai tomando conta a cada ano que passa. O corpo mostra seus traços. Os hormônios nos indicam que o corpo dificilmente será como antes. Especialmente no que se refere ao peso. E, infelizmente, a forma. É o corpo que mostra mais rápido os sinais do tempo.
Quando os cinquenta chegam, acontece o choque. Chegamos no ponto da curva. O início da descida. Muitos dirão que estou sendo dramática ou exagerada. Para eles, peço que acompanhem meu raciocínio: os cinquenta, pelo menos para mim, são o marco da meia idade. Afinal, quantas pessoas com 100 anos conhecemos? Provavelmente minha geração poderá viver, relativamente, bem até lá. Isso significaria, viver mais cinquenta anos. É bastante tempo, não é?
Assim, estando no meio da nossa vida, como viver e nos comportar? Somos uma geração que temos à disposição vários caminhos. Todos sem consistentes exemplos para nos guiar. Fazemos parte das primeiras gerações de cinquentões latinos, que chegam nessa faixa etária com boa dose de saúde, disposição e vitalidade. Acredito que estamos criando modelos, no acerto e erro.
Vejo pessoas neuróticas em manter o corpo jovem. Forçando essa busca até o limite da saúde e do ridículo. Vejo pessoas se entregando à ideia do “velho de cinquenta” que tínhamos quando crianças. Descuidando-se fisicamente ao ponto de colocar em risco a saúde. Vejo pessoas tentando o caminho do meio. Algo sempre difícil de se obter, porque temos que aprender a lidar com um corpo e uma mente que mostram sinais antes desconhecidos. Lidar com uma sociedade que valoriza o físico jovem. Lidar com um mundo que está, graças à tecnologia se transformando a passos gigantescos. Contexto que muitas vezes nos faz sentir deslocados e obsoletos.
Após uma fase de desajustes e dificuldades, posso dizer que consegui me adaptar à fase da meia idade e que hoje estou bem e feliz. O caminho que segui foi começar a reconhecer que há muitas vantagens em ficar mais velho. E elas ficam mais evidentes quando fazemos a devida transição da potência física para a potência emocional, mental e espiritual. Quando transferimos nosso principal ativo, de uma para outra. Essa transição deveria acontecer naturalmente. Os quarenta é um bom marco para se começar. Mesmo cuidando bem do físico – tanto no sentido de saúde como estético – deveríamos ir criando um volume de experiências e conhecimentos que nos permitisse chegar maduros aos cinquenta. Com alta e boa qualidade de potência emocional, mental e espiritual.
A maturidade tem seu charme. Quando bem desenvolvida, nos permite passar por situações complicadas da vida, com fluidez. Nos faz gastar, em cada situação, somente a energia necessária, sem desperdício. Com a maturidade temos a oportunidade de nos tornarmos pessoas bem interessantes. Evidente que jovens também podem ser interessantes. O ponto é que quanto mais velhos, mais possibilidades de termos adquirido um amplo leque de tópicos que desperte interesse no outro.
Ir nutrindo nossa vida de experiências diversas. Ir aprendendo assuntos além do nosso microcosmo, ampliando horizontes. Ir vivendo, refletindo sobre os aprendizados da vida. Tudo isso vai tornando nosso universo mais rico. Quando caminhamos dessa forma para a terceira idade, nossa alma vai ganhando a segurança que necessita para se colocar no mundo com confiança. Conseguimos colocar nosso valor no que temos de mais real como diferencial: a nossa sabedoria e experiência. A nossa maturidade. Podemos quanto quisermos cuidar da aparência mas, entendemos que nosso valor mais do que nunca, é o conjunto que ultrapassa a aparência e o ritmo da juventude.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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