Há um comportamento, que tem se tornado característicos nos relacionamentos: o sumir. A pessoa se relaciona, demostra interesse, que está gostando – ou, pelo menos, a leitura do outro é essa – e um belo dia, simplesmente, some. Não atende telefone, não responde as mensagens de whatsapp e em alguns casos, bloqueia a, até ontem, pessoa amada. Sem explicação. Sem nenhuma palavra.
A impressão que tenho é que é um comportamento prioritariamente masculino – são as mulheres que mais comentam esse fato nas minhas entrevistas. Mesmo com essa evidência, acredito que possa vir a se tornar um comportamento generalizado entre pessoas. Aliás, já tenho notado isso em relacionamentos comerciais, por exemplo. A pessoa some sem responder nenhuma das mensagens deixadas.
No caso de relacionamentos amorosos, a não resposta, é grave. Via de regra houve troca de carinho e sexo. Por mais liberal que tenha se tornada a relação sexual no mundo de hoje, ela traz intimidade. Ela expõe. Ela conecta. A relação muda após o sexo.
Todos têm direito a não querer mais a companhia de alguém. Aliás, é no relacionamento que vamos conhecendo a pessoa e decidindo se é isso mesmo que queremos. Se a expectativa sobre a ideia que tínhamos se confirma ou não. Portanto, é enquanto nos relacionamos, que decidimos se a relação vai para frente ou se não.
Também devemos entender que, como um amigo disse: “todo mundo tem algum tipo de rolo com alguém”. Ou seja, quase sempre, quando iniciamos uma relação, há outras pessoas em torno de nós com as quais estamos, se não enrolados, pelo menos, interessados. Paquerando. De olho. Nesse ambiente múltiplo, vamos dizer assim, começamos a sair com alguém. Às vezes saímos com mais de uma pessoa. Sem compromisso. Com ou sem sexo envolvido. Vamos conhecendo até que um deles começa a ficar mais interessante. Nossa disponibilidade vai se direcionando para esse alguém. Nessas horas começamos a cortar – ou deveríamos cortar – as outras paqueras. Esse corte, não precisa ser silencioso.
Sei que não é fácil dizer para alguém que não queremos mais. Qualquer coisa dita, vai passar, provavelmente, que estamos menosprezando o outro. E não é isso. É a simples seleção natural de gostos e afinidades. Pouco pode ser evitado para que o rejeitado não considere o outro metido ou que está sendo esnobado. A pessoa rejeitada sempre vai ter o impacto da rejeição. Faz parte do jogo do amor. Ninguém gosta. Mesmo assim, quando tratado com respeito, o impacto é menor. Ou, com o tempo, ficará a lembrança de que outro agiu corretamente.
Sumir tem a ver com certa covardia. Pense nisso. Tem a ver com fugir do confronto. Do diálogo. Fugir de ouvir críticas e até desaforos. Os desaforos fazem parte de quem vive e enfrenta a vida. Sumir tem a ver com desrespeito. Suspendemos a vida de alguém num vazio sem notícias, sem motivos, sem porquês. Geramos no outro a sensação de descarte.
Se o medo ou desgosto em ouvir coisas desagradáveis ou cenas chatas nos impede de falar, devemos entender que não podemos controlar a reação do outro. O outro é o outro. O que está no nosso controle é agir com dignidade. Acredito realmente que colhemos o que plantamos. Querer um mundo melhor, seres humanos mais humanizados. Respeito, não violência, são desejos que ouço sempre sobre a sociedade. Pois então, precisamos entender que a sociedade é feita por cada um de nós. Nos pequenos detalhes da forma como nos relacionamos. Saber dizer a adeus e ouvir as consequências disso, faz parte do convívio social. Faz parte do desenvolvimento humano. Faz parte, do caminho em nos tornarmos homens e mulheres responsáveis e do bem.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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