Quando era adolescente, uma mulher e um homem de cinquenta anos eram velhos. Assim de simples. Se vestiam como velhos. Agiam como velhos, já que se esperava deles esse tipo de comportamento. Ser velho era ter maturidade e maturidade tinha a ver, naquela época, com sobriedade, seriedade e, pelo menos no meu país, o Peru, certa sisudez. A meta era ser um velho correto, aceito pela sociedade.
Hoje eu tenho cinquenta e dois anos e me sinto adulta e madura, mesmo longe de parecer o estereótipo da mulher velha que lembro do meu passado. Para mim, ser uma quase velha simboliza liberdade. Devo esclarecer que não tenho problemas com a palavra velhice nem com a ideia de ficar velha. Pelo contrário, me sinto orgulhosa de ter chegado à minha idade como estou – tanto física como mental, emocional e espiritualmente.
Chegar à quase velhice, à maturidade dos cinquenta e poucos anos, significa me importar menos com o que a sociedade pensa. Já que aprendi a reconhecer sua capacidade castradora e reguladora. Aprendi a tomar minhas decisões de acordo com o que sinto e penso sobre a vida, com maturidade e respeito. Respeito a opinião do outro – aspecto fundamental para a convivência social – só não deixo que isso entre em mim, a menos que eu queira. Aprendi, ainda jovem, que definitivamente não sou integralmente o que as pessoas pensam sobre mim. Até porque, dependendo do grupo social, as opiniões podem ser quase opostas.
Creio que uma das grandes vantagens de chegar à maturidade dos cinquenta é ser coerente e honesta com os valores que escolhemos para viver. Podermos escolher os valores que nos guiam. Aos cinquenta, você se torna (ou deveria se tornar) mais dono de si. Quando digo dono de si, me refiro à segurança que vem do autoconhecimento. Os anos vividos devem ter ensinado muitas lições. Aprendê-las é nosso dever de casa. E, em grande parte, no que consiste viver. Estar aqui, presente, neste mundo. O prêmio? Chegar à velhice mais livre e seguro de si. Claro que há gente que insiste em ser imaturo mesmo com mais de sessenta anos. Nesses casos, o uso da liberdade passa mais por caprichos e ações egoístas do que pelo tipo de liberdade que menciono aqui.
Para mim, a liberdade na maturidade é inseparável da responsabilidade. Senão seria capricho, característica clara da imaturidade. Quanto mais liberdade, maior a responsabilidade. Vamos refletir sobre este conceito? Sobre a liberdade na maturidade significar responsabilidade? A responsabilidade vem do conhecimento e do autoconhecimento. Do entendimento do todo que está envolvido.
Muitas vezes, cedemos espaço da nossa liberdade em prol de algo maior. Isso é responsabilidade. Alguns podem me dizer que isso não seria liberdade. Ledo engano. O ceder é um ato que acontece pela liberdade. É uma decisão. É um dos muitos trade off que fazemos na vida pela vida em sociedade. Sonhar que se pode tudo é imaturidade. É fantasia que faz sofrer. Que gera revolta e faz gastar energia em algo inútil. Focar nossa energia naquilo que pode ser feito é maturidade. Só se aprende com os anos.
É claro que há perdas. E a maturidade também ajuda a lidar com isso. Imaginar que tudo ficará igual é querer viver na ilusão. Para quê? O corpo e sua aparência física perdem, por mais cuidado que tenhamos com eles. O desgaste pelos anos vividos é natural. É biológico. Ficar neurótico, como vejo ao meu redor, por algo impossível de evitar é, no mínimo, gasto energético desperdiçado.
Evidente que devemos nos cuidar e tentar ceder o menos possível à preguiça de fazê-lo. Ao cansaço. Aos hormônios que lutam contra nós e nos fazem engordar mesmo comendo menos (eu sei bem o que é isso!). Só que se cuidar e se esforçar sem neurose exige sabedoria. E isso só vem com a idade. A sabedoria de ficar velho consiste em economizar energia. Essa sabedoria só é aprendida pela experiência de vida. Não se aprende em livros nem em cursos. Podemos – e devemos – obter muita informação para ter conhecimento. Mas conhecimento não é sabedoria. É bom separar esses conceitos. Tem gente que sabe muito e passa longe de ter sabedoria.
A sabedoria é a capacidade que temos de avaliar, de compreender. De assimilar à nossa vida todas as variáveis que fazem sentido para nós. Sabedoria, ao meu ver, na maturidade a caminho da velhice, é saber colocar minha energia naquilo que realmente vale a pena e dará resultado positivo para mim e para os outros. É usar minha liberdade com responsabilidade para ser cada vez mais eu. É ocupar com maior propriedade meu lugar no mundo. E usar meu tempo com pessoas e atividades que façam sentido à minha alma. E quando isso não for possível, ser rápida e objetiva para não desperdiçar meu tempo naquilo que não irá melhorar em nada minha vida e a vida dos outros. É me preocupar menos com ser correta ao olhos da sociedade e mais autêntica com o que meu ser clama por ser. Até porque, vamos convir, passar uma vida inteira fingindo ser uma outra pessoa, fazendo parecer o que não se é, é um grande desperdício de tempo, não é verdade?
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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