Tenho escrito alguns posts pensando nas mulheres executivas. Neste texto decidi ampliar o foco porque o momento é de reflexão e de fazer escolhas. Tanto no nosso microcosmo como em nossa sociedade. E essa avaliação também recai sobre o lugar ao qual dedicamos nossos esforços profissionais. O lugar de onde obtemos nosso sustento e que contribui fortemente a formatar nossa visão de mundo. Queiramos ou não, as culturas da empresa em que atuamos e o setor ao qual ela pertencer vão nos moldando, mesmo sem percebermos. Por isso a pergunta: como sua empresa atua em períodos confusos, como esse da pandemia Covid-19? Como age com seu público interno – você e seu colegas – e a sociedade? Belo momento para avaliar os valores que de fato regem a sua corporação. Em épocas como a que estamos vivendo, nada fala mais sobre valores e cultura organizacional do que as ações.
Tenho acompanhado, dentro das minhas possibilidades, os anúncios de como as empresas, com suas marcas, se posicionam e agem. Algumas fazem meu coração vibrar e ampliam minha confiança em um futuro melhor. São marcas com as quais quero me conectar, seja como consumidora, seja como apoiadora ou fã. Outras, no entanto, me causam indiferença pela timidez da sua atuação ou pela escolha que fazem. Algumas, infelizmente, me fazem rir de tão ridículas que se mostram, enquanto outras geram em mim uma certa vergonha alheia pela ação mesquinha que promovem, provavelmente convencidas de que são magnânimas. O que me convence, mais ainda, de que a miopia corporativa é um mal que precisa ser combatido.
Vejo empresas como a BRF, que está doando R$ 50 milhões em alimentos, insumos médicos e fundos de pesquisa e desenvolvimento social. Vejo o Outback doando seus ovos de Páscoa para mercadinhos menores poderem vender. Vejo o GPA contratando 5 mil funcionários temporários em 10 dias e assinando o pacto de Não Demita, lançado inicialmente por 40 empresas para garantir o sustento de mais de 1 milhão de pessoas, sem contar os familiares envolvidos. Vejo a Magazine Luiza, que decidiu cortar por três meses 80% do salário do CEO e do vice-presidente de operações, 50% do salário de 12 diretores-executivos e sete membros do conselho e 25% do salário dos demais diretores com a intenção de conter gastos e evitar demissões. A atitude da Magazine Luiza me fez lembrar de um caso oposto: uma grande empresa brasileira, em busca de maior lucro demitiu mais de mil funcionários da sua base – pessoas que teriam, pela baixa formação, maior dificuldade para se recolocar num país em recessão. Os seus executivos? Não mexeram em nada nos seus salários e benefícios. Sem dúvida é uma escolha moral.
Neste momento histórico da pandemia Covid-19 – porque não tenho dúvidas de que será um daqueles pontos na história que serão contados inúmeras vezes no futuro – somos instigados a pensar como cidadãos e sair do individual. É quase certo que todos sairemos mais pobres da pandemia e que a situação econômica e financeira será crítica para milhões de brasileiros. Apesar da tristeza, vamos olhar para a grande oportunidade de sermos melhores. Vamos patrocinar, doar e servir. Tem se falado bastante sobre o líder que serve, não é verdade? Então, chegou a hora. Até porque para quem não pode doar existe sempre o caminho do voluntariado. Quem não tem dinheiro costuma ter mãos.
No plano individual, vejo lives de profissionais invadindo as redes sociais – pessoas promovendo cursos, discussões, distrações das mais diversas. Há lives para todos os gostos, temas e idiomas. O que vejo, e me emociona, é gente agindo. Gente se doando, gente saindo da inércia e do comodismo. Que maravilha!
Ao mesmo tempo, vejo gente criticando no LinkedIn – uma rede de profissionais, devemos deixar isso bem claro – o volume de lives. Oi? Qual é o motivo da crítica? Se incomoda, vale a reflexão para entender o porquê desse incômodo, e, simplesmente, não assistir. Sempre haverá aqueles que ficam na crítica. Vamos olhar para quem faz e se doa nos momentos delicados e históricos.
Por isso, executivos, meu chamado é para vocês: é o momento de ação, como indivíduos e como marcas. É o momento de fazer nosso dever de casa interno de reflexão, e, ao mesmo tempo, de agir, ocupando com firmeza nosso lugar na sociedade. De agir com cidadania. De usufruir de nosso lugar que, se olharmos para este Brasil desigual, é de privilégios. Vamos optar para fazer a coisa certa e sair moralmente mais robustos desta horrível pandemia Covid-19. Vamos agir de tal forma que daqui a várias décadas, quando nos perguntarem desse tempo na história do mundo, possamos falar com orgulho de nós.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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