O caso do jogador de futebol Robinho, condenado em novembro de 2017 na Itália por estupro coletivo, sentença à qual recorreu o que justifica que esteja em liberdade, trouxe, além do próprio horror que representa um ato de violência sexual contra mulheres ou qualquer ser humano; a imagem do ainda persistente machismo que culpa “as feministas” – e a imprensa – pela pressão que sofre da opinião pública.
Se o Robinho cometeu ou não o ato pelo qual foi condenado em 1ª instância na Itália, saberemos quando acabarem todas as etapas do processo nesse país; o que podemos avaliar neste momento é a associação que o jogador fez entre a pressão social e o feminismo. Passei alguns dias pensando sobre isso e gostaria de compartilhar com vocês essa reflexão.
A primeira reflexão que me veio foi notar como o feminismo é visto pelo jogador: um movimento que faz com que as pessoas – não só as mulheres – se revoltem e façam pressão sobre qualquer comportamento que prejudique a mulher – imaginem, então, um estupro. Gritar e movimentar a sociedade para fortalecer cada vez mais a repressão de condutas machistas e incentivar as denúncias. Se é isso que ele pensa, então está certo: o feminismo, felizmente, busca também desmontar o machismo estrutural e com isso corrigir comportamentos e atitudes que o tornam vivo no dia a dia da nossa sociedade.
A segunda reflexão – e devo confessar que ainda me surpreende – é que homens como o jogador Robinho podem estar acostumados a exercer o poder de superioridade sobre a mulher, seja pelo fato de serem homens e/ou pelo fato de terem dinheiro. E como a mudança de moral que está ocorrendo no Brasil e no mundo deve estar deixando furiosos esses homens. Até onde eu consegui acompanhar, não vi nenhum constrangimento nem postura que demonstre se sentir horrorizado pela acusação do possível estupro coletivo. Pelo contrário, vi um homem com postura de deboche, parecendo se sentir acima da lei e acusando outros – as feministas e a imprensa – pela perda do emprego.
Muitas pessoas podem pensar que os feministas – sim, porque há cada vez mais homens se unindo ao movimento – exageram e veem em todo ato comportamentos machistas. Penso que seguramente há pessoas que exageram, mas, pessoalmente, prefiro esse possível exagero a ser, mesmo sem querer, cúmplice e/ou partícipe da cultura machista instalada no nosso DNA cultural.
Estamos todos vivendo tempos de transição de valores. Isso traz confusão, e o certo e errado podem se confundir em alguns pontos, até porque poucas coisas estão estabelecidas. Estamos todos construindo o novo e aprendendo com a nova moral. O que é certo é que vamos errar. Nessas horas devemos pensar que o mais importante é a pressão social, porque aponta comportamentos e atitudes que antes passariam despercebidos, de tão imbuídos que estávamos na cultura machista.
Por mais tenso que o ambiente possa ficar, é muito importante, neste momento da transição de valores, que estejamos todos atentos para realmente abolir o abuso, seja de quem for, sobre o outro.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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