Hoje pela manhã fui visitar uma empresa de consultoria de inovação e tendências. Um ambiente moderno, bem informal, num lugar super gostoso e com uma equipe bem jovem e descolada. Eu e a gerente geral éramos as pessoas mais “antigas” do pedaço – isso porque estamos no auge dos nossos 40 e poucos anos!
No final da visita, a gerente e mais 3 meninas da equipe estavam saindo para almoçar e me convidaram para ir junto. Mal sentamos na mesa e surgiu o assunto que se estendeu até o café.
Pela manhã havia rumores de que a diretora de uma empresa cliente deles seria promovida e parece que a vaga estava em aberto. A questão é que o salário da mulher beirava a casa dos 40 mil reais, mas que aquilo ali era quase a escravidão, pois a cliente tinha uma carga horário de mais de 12 horas diárias de trabalho, incluindo sábados, domingos e feriados – isso sem contar que ela vivia tensa e sob pressão constante. Ela é casada, tem 3 filhos e comanda, além de toda a sua equipe na empresa, um pequeno batalhão de babás, empregadas, motoristas, folguistas para dar conta da rotina dos filhos.
Não precisou muito para a pergunta mágica aparecer: alguém naquela mesa se canditaria à vaga se isso fosse possível? As 3 jovens logo se posicionaram dizendo que jamais fariam isso: por qualidade de vida, por prezar pela liberdade, por não querer viver daquele jeito e por aí vai. O que não faltava para elas eram argumentos para achar que a vida da tal executiva não era boa.
“Mas….e o salário de 40 mil reais?” Quis saber a gerente. “Pouco importa”, disse uma das meninas. “Prefiro ganhar menos e viver mais”, disse outra. Por fim, a minha companheira de maturidade desabafou indignada: “Gente, como assim? Este cargo é tudo que se espera numa carreira. É um sonho. Além disso ela é linda, poderosa, dirige uma BMW e tem roupas maravilhosas. Isso sem falar que eu também tenho 3 filhos e minha vida seria muito mais fácil se pudesse ter a estrutura que ela tem, o poder, o status. Em que mundo vocês vivem?”. Silêncio geral.
Eu, que havia acabado de conhecer aquelas pessoas, achei melhor não expor nenhuma opinião. Mas não demorou muito para todas olharem para mim e perguntarem: “E você? Se canditaria ao cargo?”.
Pois é. Mal sabem elas que eu estava fazendo esta pergunta para mim mesma enquanto elas discutiam entre si. Fui sincera: “Provavelmente anos atrás eu me canditaria sem dúvida. Hoje, não sei. Não quero ser escrava nem do dinheiro, nem deste poder, mas não conheço a diretora em questão para saber se é o ambiente que está fazendo isso com ela ou se a imposição da falta da liberdade está vindo dela mesma. Fato é….hoje eu quero trabalhar, produzir muito, mas eu também quero ser feliz e viver. E dinheiro faz bem. Gostaria de ver meu trabalho rendendo como o salário dela. Mas aprendi, a duras penas, que dinheiro também cobra seu preço e ele pode ser libertador ou um instrumento de escravidão. Você que decidi isso”.
Então me calei, pois vi que a gerente estava mais indignada com a minha resposta do que com a resposta das meninas. Resolvi desviar o assunto fazendo outra pergunta – pensando no tema que estamos discutindo no blog.
“Mas se o gênio da lâmpada perguntasse quem vocês gostariam de ser no mundo corporativo – fosse quem fosse – em qualquer nível, indústria, segmento – vocês teriam uma resposta para ele? Quem vocês gostariam de ser?”. A gerente não pensou 3 segundos para me dar uma lista de 5 ou 6 pessoas que ela gostaria de ser. E as meninas? Apenas uma respondeu: “Eu quero ser eu mesma, seja no cargo que for”. Que bela resposta!
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