Ainda falando sobre a mudança do conceito de poder no mundo corporativo eu andei pensando: lembro que desde muito jovem eu tinha o sonho de trabalhar em uma empresa e me tornar diretora de alguma coisa. Eu costumava usar a expressão: “empresa de crachá”. Esse era realmente um grande sonho e ele foi realizado numa carreira de mais de 20 anos, com muito trabalho e realizações. Até demais! Houve um tempo que na falta de um, eu tinha sete crachás. É sério. Eu andava com nada menos do que SETE deles: dois da agência em que eu trabalhava (eram duas sedes), um para entrar no estacionamento e mais quatro para entrar nos prédios dos meus clientes – assim não perdia o tempo da fila na recepção.
Hoje já não me importo com crachás. Muito pelo contrário. Se estiver no meu caminho trabalhar em algum lugar onde simplesmente eles não existam, eu até vou gostar. O interessante é que eu tenho a impressão que cheguei ao nível de não me importar mais com o ambiente formal de trabalho porque passei o tempo que precisava neles e amadureci. Porém, tinha a impressão que as pessoas que estão começando agora ainda tivessem este sonho, mas isso também mudou.
Outro dia eu estava no que chamo de meu atual escritório: uma loja da Starbucks e um rapaz muito jovem puxou conversa comigo. Papo vai, papo vem ele me contou em detalhes sobre uma start up que ele estava lançando. E antes que eu alguém ache que ele estava me paquerando, não era este o caso. Eu era exatamente o “target” do negócio que ele estava iniciando. Dei meus pitacos e ele pegou meu email para me avisar do lançamento do serviço. Quando isso aconteceu, eu escrevi para ele desejando boa sorte e me colocando à disposição, para quem sabe, me tornar consultora de marketing da sua empresa. Dias depois ele me chamou para um café no “nosso” escritório em comum: a mesma cafeteria. Desta vez levou o sócio – tão jovem quanto ele. Tivemos uma longa conversa e fiquei surpresa com a história dos dois. Ambos trabalhavam no mercado financeiro, têm 25 anos e até o ano passado já haviam juntado dinheiro suficiente para abrir um negócio próprio, viver sem lucro por 3 anos e ainda teriam dinheiro para se divertir.
Fiquei pensando nos “meus25 anos”. A menina do crachá! Se eu tivesse o sucesso financeiro e o poder que eles tinha nas mãos com esta idade, a última coisa que eu faria era deixar o meu posto, a empresa, o poder que tudo isso me daria. O status! Como deixar este status para trás? Mas aqueles meninos simplesmente não estavam dando a mínima para aquilo e jogaram a vida corporativa formal para o alto. Hoje, simplesmente são felizes empreendendo, andando de tênis e fazendo de uma mesa numa coffee shop o seu lugar de trabalho. Sinal dos novos tempos.
Confesso que fiquei com um certo orgulho de mim mesma por fazer parte do universo dos meninos. Acho que virei uma espécie de conselheira deles. A gente consegue, apesar das diferenças, falar a mesma língua e ,nela, não existe a palavra poder. Muito interessante….
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