Domingo assisti ao filme Amnésia que me fez lembrar como é importante perceber a utilidade das relações. Saí do cinema com um sentimento doce e esperançoso sobre a vida ao relembrar como um encontro aparentemente singelo pode gerar tantos novos caminhos dentro da gente. E como é sábio poder perceber isso no mesmo instante que acontece. Vivemos hoje em dia as relações de forma tão mecanizadas que perdemos a poesia que o encontro com alguém traz.
Costumamos pensar nos relacionamentos afetivos de forma romântica, acreditando que o amor, uma energia sublime, nos une a alguém inexplicavelmente e que a felicidade surge a partir dessa união que nem um milagre. O que pouco pensamos é quanto as relações são úteis – e necessárias – para caminharmos pela vida. Mesmo aquelas que nos fazem sofrer.
Pode haver utilidade premeditada, explícita ou não, mas que atende a um interesse consciente, podendo ser este financeiro, de inclusão ou ascensão social, ou de companhia para os que odeiam estar sós, ou de se sentir mais inteligente, bonito ao conviver com alguém que aparenta ser… tão diversos os interesses quanto as possíveis relações que se formam. Neste tipo de relação, quando o interesse não é velado, ambos podem aproveitar dessa troca consciente sem necessariamente cair nas armadilhas do exercício de poder.
Porém, há outras utilidades mais espontâneas. Aquelas que vêm necessariamente quando nos relacionamos com alguém, especialmente se é de forma afetiva. Aquelas utilidades que você não espera, embora tua alma sim. Adoro observar o encontro de duas pessoas e como essa aparente casualidade afeta significativamente cada uma delas. Como a vida delas, mesmo que nem sempre as pessoas envolvidas se deem conta, toma outro rumo, portas se abrem e outras se fecham, perspectivas mudam e caminhos novos são trilhados.
Se tivéssemos a sabedoria de observar e aproveitar os novos ventos que uma pessoa traz nas nossas vidas pararíamos de chorar pelo término das relações que nasceram para partir, e nos alegraríamos por aquilo que conseguimos viver e transformar. Olharíamos as pessoas com mais curiosidade e atenção, abertos à dança que é ofertada num salão bem maior do que poderíamos sonhar. Cada pessoa com que nos relacionamos tem um dom que pode influenciar diretamente as nossas vidas. É só permitir. É só ficar atento.
Adoraria terminar com a frase que Martha, a personagem principal do filme Amnésia disse a Jo, o jovem rapaz que sonha em ser DJ, mas não quero ser acusada de fazer spoiler. Se gosta do ritmo e tempo do cinema europeu, recomendo ver esse filme para sair leve e doce, pronto para reconhecer – e agradecer – a utilidade nas nossas vidas das pessoas ao nosso redor.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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