Algo que tem nos acompanhado nos últimos tempos é a relação entre mães e filhas. Trata-se de um assunto tão complexo e polêmico quanto a relação mães e filhos. O olhar que queremos lançar aqui é o da reflexão sobre a relação entre mães e suas filhas adultas.
Algo que chama a atenção neste tipo de relação é a inversão de papéis que acontece de uma hora para outra e passa a ser comum muitas filhas cobrarem de suas mães atitudes mais firmes ou cuidadosas consigo mesmas, entre outras coisas. Na maior parte das vezes tem amor nestas relações, é claro, e a intenção é tal e qual o das mães no passado: proteção. Mas, na maioria das vezes, as filhas adultas, no papel de protetoras de suas mães, expõem exageradamente as mesmas, às vezes até com uma certa raiva (ou mágoa) deixando expostas algumas feridas que se formaram ao longo do tempo e que talvez não tenham sido totalmente resolvidas.
Normalmente se trata de um padrão: a filha ataca e a mãe se defende ou silencia. A dúvida que paira no ar é: as mães, reagem assim por culpa, medo? Ou talvez porque, com o tempo, as mágoas tenham se escondido e ela se conformou com isso. Provavelmente não existe apenas uma resposta, uma vez que trata-se de relações interpessoais e cada história é feita a partir do que se vive e do que se é.
Lembro que já fui bem mais agressiva com minha mãe. Passei anos magoada por fatos do passado que pareciam ter sido feitos por pura crueldade. Depois passei para fase onde entendi que ela não fez por mal, mas não concordava. E finalmente cheguei no ponto crítico: Não fez por mal, mas foi cruel. Queria acertar, mas é humana e errou. Portanto, não vou cometer o mesmos erros.
Por outro lado, com o tempo e com a chegada da maturidada consegui enxergar que tenho uma boa mãe e que ela muito me ensinou, inclusive com o que eu considero seus erros. Ela é parte fundamental de quem eu sou e dos valores que tenho. E, ainda mais importante: agora que sou mãe, não posso deixar de admirar uma mulher que criou 5 filhos, todos equilibrados e bem sucedidos. Acredito que deixar de ataca-la com regularidade fez com que ela também se acalmasse, embora nunca tenhamos conversado a respeito deste assunto.
Não tenho a fórmula, mas algo me diz que somos mais críticas com as pessoas mais próximas. Julgamos com afinco e, portanto, condenamos mais. Mas tudo é reflexo do que está dentro de nós mesmas. Daquilo que somos, do espelho que nos incomoda. Hoje, quando me vejo no papel de mãe (mesmo não sendo mãe de meninas) consigo perceber algumas reações minhas que me incomodam tanto quanto me incomodavam como filha. Tento ficar consciente disso, mas, como minha mãe, também sou humana, portanto, não consigo ter discernimento o tempo todo.
Saber disso me deu luz para conseguir perdoar determinadas atitudes. Assim me encho de amor e gratidão e deixo para trás o que não tem nenhuma importância mais. Desta forma conseguimos conviver mais em paz, tentando nos amar plenamente. Não é fácil, mas tentar com o coração já faz tudo ficar bem mais fácil.
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