Vários amigos me enviaram um dos últimos comerciais da Axe e da Natura para comentar sobre esse homem que está cada vez mais assumindo seu lado sensível e humano. Marcas de relevância possuem uma responsabilidade imensa neste tempo de transição de valores e crenças sociais. Através da sua comunicação ajudam – ou prejudicam – a que homens e mulheres avancem e incorporem novas formas de ser e agir. Considero preciosos os comerciais que mencionei porque incentivam a quebrar moldes rígidos que determinavam o que era ser homem até pouco tempo atrás. Mesmo para quem se sente confortável dentro desses moldes, a reflexão é provocada.
Quando em 2011 conseguimos captar a mudança de valores e crenças sobre a masculinidade na sociedade urbana brasileira, informações que depois me ajudariam a escrever o Movimento Humano, O Homem Sensível. O homem se sentia acuado e tinha optado por calar ao perceber que tinha perdido relevância social num período de supremacia feminina. Parte dessa reação se devia ao fato que a maioria não queria o mesmo lugar de poder de antes – que se por um lado lhe oferecia grandes privilégios, por outro falava cada vez menos com ele, mas tampouco sabia qual lugar ocupar socialmente. Sem espaço social valorizado e sem saber pelo quê lutar, o silêncio era o que parecia mais adequado para lidar com uma mulher que não parava de se auto-elogiar.
Foi assim que ele foi construindo um caminho novo, apoiado pela mulher que cansava também do papel de Sabe-Tudo-Toda-Poderosa, como a chamávamos desde o Projeto Mulheres, de 2010. Era o ano de 2013 e os casais que decidiam baixar a guarda, começavam a formar a Sociedade Par como denominamos o espaço onde localizamos novas crenças sociais nessa sociedade urbana. Foi nesse período que escrevi o Movimento Humano, Microcosmo que trata sobre isso.
Porém, já em 2011 um aspecto me chamou a atenção e ficou piscando como uma luz de alerta desde então: o espírito de Majestade ainda estava incubado no homem, como tatuagem na pele. Espírito bastante alimentado pelas mulheres, diga-se de passagem. E esse era, de certa forma, meu temor e minha curiosidade como pesquisadora: como esse espírito iria se manifestar nos próximos anos?
O mais básico e óbvio é a figura do Donald Trump. Ele representa o desejo de muitos homens – e mulheres – de continuar no poder mantendo formas e padrões arcaicos. Como disse no post O perigo de acreditar na própria mentira a obviedade do Trump só me confirma que a identidade masculina está mudando a passos largos. A reação firme e quase agressiva da sua eleição costuma acontecer quando a ameaça é grande.
Minha preocupação recai sobre o que é mais sutil, e por conta disso vai se espalhando lenta mas insistentemente, sem percebermos. O Homem Sensível já está presente em boa parte das camadas sociais– embora ainda seja minoria – e deverá se multiplicar com o apoio de marcas importantes. A questão é quando O Homem Sensível se alia ao espírito de Majestade, caminho que tenho notado em alguns casos de estudo. Quando isso acontece, corremos o risco de considerá-lo tão fofo que podemos voltar a ser quase mães de nossos companheiros.
Ainda, a sensibilidade quando associada à fraqueza e insegurança, com um toque de irresponsabilidade e porque não, de mimalhice, pode se tornar o caminho perfeito para a mulher realizadora assumir todas as responsabilidades que deveriam ser divididas a dois. Devemos todos estarmos atentos que sensibilidade não significa, em nenhum dicionário, sinônimo de fraqueza.
Ps. Se quiser assistir aos comerciais que menciono no início deste post é só clicar no nome das marcas. Valem a pena!
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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