Decidi fazer minha carreira profissional com independência desde muito cedo, caminho natural por vir de uma família de empreendedores, que na época eram somente pessoas que trabalhavam arduamente para compensar os poucos recursos educacionais. Cresci com a liberdade e o ônus que o ser dono de seu próprio negócio, num Peru da década de 70 costumava trazer: minha infância foi nutrida com tempos de fartura e tempos de escassez que se alternavam com a freqüência suficiente para me fazer pensar que quando um ciclo começava, invariavelmente chegaria o outro. Levei anos para tirar essa crença dentro de mim e me organizar para que a gangorra seja menor.
Demorei alguns anos para abrir a behavior. Ter uma empresa para emitir notas fiscais é diferente do que criar uma empresa, uma marca e investir nela. Quando tinha 30 anos achei que seria uma boa ideia construir uma marca em torno de mim. Fiz isso com a expectativa de tornar a behavior uma grande empresa, num tempo que, para mim, grande tinha a ver, também, com tamanho. Foram anos desafiadores e ao mesmo tempo maravilhosos que me ensinaram muito, especialmente que liberdade não combina com empresa grande. Quanto mais a behavior crescia, mais eu ficava presa à necessidade de gerar negócios. E quanto mais negócios eu tinha que gerar, menos liberdade de criação e produção eu tinha.
Embora na época não fosse tão claro para mim como para as pessoas em minha volta, minha alma sempre teve a liberdade como um dos seus pontos essenciais e a sensação de limites estreitos sempre me deixava angustiada. Em contrapartida, a curiosidade em descobrir novos caminhos analíticos, novas formas de olhar o mundo, experimentar novas técnicas e misturar metodologias de áreas diversas foram se tornando, a cada ano mais preponderantes dentro de mim. Para fazer isso com certo senso de perigo, o melhor é a liberdade de ser pequena.
E é nesse tamanho menor que hoje chego aos 20 anos da behavior me sentindo grande. Expandida e livremente realizada. Fiz esse caminho planejadamente? Claro que não! Só segui minha intuição e respeitei, cada vez mais, a minha essência. Só posso dizer que estou muito feliz de chegar até aqui como cheguei. Poderia ter sido melhor? Sempre. Arrependimentos existem? Lógico. Creio que só não se arrepende de algo quem nunca arriscou. Mas eles não pesam. Compreendo que fazem parte dos trade-offs que fazemos ao longo da vida.
Minha trilha até aqui com a behavior me trouxe pessoas interessantes, amigos que levo comigo, mundos novos, experiências únicas, projetos desafiadores e maravilhosos, clientes divertidos e corajosos. Hoje só tenho a celebrar e agradecer.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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