Tem uma fase da vida que acreditamos que toda grande paixão se tornará um grande amor. Entramos nela sugados pelo magnetismo que a paixão é capaz de exercer e com a sensibilidade à flor da pele, vamos nos perdendo num mundo de emoções e sentimentos que não nos permite raciocinar. Costuma ser grande a decepção quando a paixão mingua e a promessa de amor eterno se dissipa no ar.
Com o passar dos anos aprendemos que uma grande paixão possa ser somente isso, uma grande paixão. E é esse seu valor e papel na nossa vida. Por motivos diversos, ela não vira amor e muito menos relacionamento duradouro. Mesmo assim enquanto a paixão estiver acesa, o desejo de posse da outra pessoa quase nos consome. Viver essa intensidade de sentimentos é um dos grandes prazeres de se apaixonar perdidamente. Sabemos que ela poderá desaparecer com a mesma rapidez com que surgiu. E que sobreviremos a ela. É como subir numa montanha russa na primeira fila. Grandes emoções que têm data para acabar.
O encantamento é diferente da paixão porque tem mais fantasia que realidade. Ele entorpece, nos tira do chão. Mexe com nosso espírito mais do que com nosso corpo. Ele amplia, nos expande. A paixão nos foca no nosso objetivo, por isso limita nosso campo de visão. Loucamente apaixonados não vemos mais nada na nossa frente a não ser o nosso objeto de paixão. Encantados percebemos todo o entorno magicamente.
O encantamento nem sempre quer a posse. Pela sua própria natureza, há até um certo distanciamento que a admiração, provocada pelo encantamento nos obriga a respeitar. Quando lidamos com ele de forma saudável, conseguimos ser criativos, risonhos, leves e sonhadores. Quando erramos na mão saímos da fantasia e caímos na ilusão. A ilusão nos machuca porque nos faz perder a conexão com a realidade.
Paixão e encantamento são alimentos do nosso ser. São energias maravilhosas que nos movem e podem nos levar a patamares diferentes e melhores. A paixão é mais conectada com o nosso corpo pelo desejo que nele está implícito. O encantamento é nutrição maravilhosa para nossa alma. Amplia horizontes, nos torna positivos e otimistas. Ainda, tem a vantagem de não ser necessariamente ligada à uma pessoa. Podemos nos encantar com um novo emprego, com uma cidade, com um grupo. Viver encantado é viver no limite entre a fantasia que expande e a realidade que nos limita. É acreditar que é possível criar e realizar, com leveza e firmeza. Fundamental nos dias hoje. Por isso meu voto, neste momento é por mais encantamento nas nossas vidas!
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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