A Sociedade Par foi a nominação que demos a uma das expressões do Movimento Humano Microcosmo que captamos em 2013. Consistia em casais que para evitar serem criticados ao expressar seus desejos e planos para o futuro dentro de seus círculos de relacionamentos, especialmente o familiar, optavam por se fechar, criando quase um campo paralelo à sociedade em geral.
Entendi naquele momento que tínhamos nos tornado uma sociedade inquisidora exigindo dos outros uma atitude virtuosa a partir de modelos que publicamente defendíamos; e, ao mesmo tempo, no interior do nosso mundo privado estávamos gerando uma revolução. Só que silenciosa.
Inspirados por movimentos coletivos que empunhavam bandeiras e viviam às turras com o status quo, a maioria dos integrantes da Sociedade Par tinha decidido pela revolução silenciosa. O eixo principal dessa expressão era a mudança do que considerávamos Poder e todos seus símbolos e formas de expressão.
Na época, meus estudos estavam focados no campo das identidades femininas e masculinas e era através dele que observava essa transformação. O poder na relação homem e mulher vinha se transformando há anos e os casais que representavam a Sociedade Par, tinham decidido viver modelos diferentes dos herdados pelos pais.
Apesar da variedade de formas que observava nesses casais, todos tinham em comum a queda na diferenciação dos papéis sociais. Isto é, os limites do que significava ser homem e ser mulher – expressados através de tarefas domésticas, por exemplo – estavam se misturando.
Passamos a ver com regularidade nas escolas homens participando de reuniões escolares enquanto suas mulheres viajavam a negócios. A limpeza e administração da casa sendo melhor distribuído entre ambos. Nos mais jovens, mulheres menos preocupadas com a higiene da casa do que os homens – algo impensável 20 anos atrás – ou, louças e poeira se acumulando quando nenhum deles assumia essa tarefa. Sem isso se tornar, necessariamente, uma crise existencial ou símbolo de falta de amor.
Com os anos, os representantes da Sociedade Par se tornaram numerosos ao ponto de incomodar o status quo. Hoje claramente sua influência atinge não só as tarefas domésticas e formas de criar filhos no seu Microcosmo, como também, as relações com o trabalho, educação, consumo e perspectivas de futuro. Mesmo sem ter sido, talvez, uma intenção proposital, o Microcosmo dos muitos casais que formam a Sociedade Par deixou de ser Micro.
Ao deixar de ser expressão do Microcosmo e passar a ter relevância no Cosmo interagindo e interferindo com maior ou menor potência, estamos caminhando para uma outra fase: a da Coletividade. Diferente da comunidade que era circunscrita nela própria, interagindo pouco com o resto, na fase da Coletividade, há uma multiplicidade de interações.
Participamos de vários grupos que nos conectam com realidades que estão mais em linha com o que começamos a acreditar. Os grupos podem se conhecer entre si ou não. Dependerá dos diversos interesses de cada membro. Uma das características dessa expressão é a variedade. Estamos em busca de formas; e a variedade foi a escolha de como fazer essa busca para selecionar o que realmente ficará conosco. O que já está claro para mim, é que para fazer parte desse movimento, uma coisa é fundamental: devemos ter o coração para o novo.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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