Nunca fui de morrer de amores pelos meus ídolos. É lógico que  tenho minhas preferências entre atores e músicos, mas nunca fui de me descabelar por eles. Mesmo sendo da época em que Madona surgiu como “mega superpop star” para o mundo. Minhas amigas iam cantando suas canções no ônibus, levavam os discos para a escola e a imitavam dos pés a cabeça. Eu não gostava e nem desgostava dela, mas o que tocava meu coração era a poesia musical do Renato Russo. Parecia mais humano. É aqui que eu quero chegar. Outro dia a Beyoncé entrou na minha vida, não como um ídolo, mas como uma personagem que me fez refletir a respeito da relação entre os deuses pops atuais e seus seguidores. 

Começando do começo: semanas atrás um dos meus sobrinhos me ligou perguntando se ele e a namorada poderiam ficar na minha casa para irem ao show da cantora. Eu adoro quando minha família vem me visitar, especialmente meus sobrinhos. É claro que concordei! Obviamente eu já havia visto a Beyoncé e sei de quem se trata, mas sinceramente, se me pedirem para cantar uma música dela eu não saberia. Mas comecei a ficar mais atenta à moça por conta da vinda deles. Dias antes de chegarem, a Beyoncé desembarcou no Brasil. Eu a vi na televisão falando que gosta do país, que estava feliz em voltar e que trouxe seu filho desta vez (um bebê de colo). Gostei da figura que vi ali: uma mulher, uma mãe que se orgulha em poder trazer o filho com ela enquanto trabalha. Simpática e natural, vi uma pessoa de carne e osso. É claro que ela não estava com a cara que tem quando acaba de acordar, seus consultores de imagem jamais deixariam isso acontecer, mas ela estava lá com seu cabelo enrolado (como diz a música do Zeca Baleiro), uma maquiagem leve e de calça jeans com camiseta. Foi a primeira e última vez que a vi assim. Dali para frente só apareceu a deusa, a diva, o mito. Eu a vi poderosa e dominando os palcos com sua imagem estampada por todos os cantos. Também a vi por meio dos fãs enlouquecidos e seus comentários que invadiram as redes sociais. E dançar o tal do funk no Rock in Rio então…só aumentou a idolatria suprema dos que a amam. 



Ela não é a única, claro. Isso é o normal nos dias de hoje- se é que não era assim no passado, afinal a mitologia grega não seria o que é, se não tivesse quem cultuasse os deuses e seus poderes. E isso é o mais estranho para mim: se admira as máscaras e não o ser essencial. Se idolatra a poderosa, sua roupa e sua dança sensual. Eu estou usando esta artista, mas poderia ser qualquer outra. A questão aqui é outra. E não pensem que não admiro a Beyoncé e todas as divas que fazem por merecer! São cantoras maravilhosas, lindas e dançam como poucas pessoas são capazes. Não há como não admirar quem consegue ir além do domínio do seu própria corpo. Mas, para mim, isso deveria ser o mesmo que admirar o Cesar Cielo, por exemplo: alguém com a capacidade de fazer além do que nós, normais, fazemos. Mas sei que não é assim. Vi como minha hóspede querida ficou nos dias antes do show: toda a ansiedade, todo o desejo puro, genuíno, sincero, de ver alguém que ela ama tanto, ali, diante dos seus olhos. 

Gostaria de ser mais visceral com meus ídolos para entender porque a mulher de pernas esculturais, cabelo bonito, beleza delineada, simpática e carismática tem que ser muito, mais muito mais do que isso nos palcos. Tem que ter as tais 5, 10, 17, ou seja lá quantas meias que dizem que usa, para ter pernas perfeitas ao invés de pernas lindas. Ter a roupa mais sexy, ao invés de um lindo vestido, uma postura de um “sou um ser superior”.  E  o nome da turnê é Mrs Carter, ou seja, senhora Carter (esposa de Shawn Corey Carter, mais conhecido como Jay-Z)! Não faz nenhum sentido para mim! Não poderia apenas ser uma tremenda cantora e bailarina que também é mulher, esposa e mãe? Às vezes fico com receio de que todo este culto ao efêmero é a pior sabotagem que podemos cometer contra nós mesmos. Mas infelizmente, só poderia responder com propriedade, como disse, se tivesse uma relação muito mais apaixonada com meus ídolos.

Fiquei me perguntando se já não tinha chorado de alguma forma com algum pop star. E lembrei que chorei (e não estou sendo irônica): num domingo de chuva assisti ao filme do Justin Bieber, Never Say Never. Chorei muitas vezes no filme. Mas percebi que o meu choro não serve para elucidar a questão, pois não chorei nos momentos em que o menino se transforma no ídolo juvenil. Chorei quando, dias antes de uma apresentação muito importante em NY, ele teve dor de garganta e se sentiu mal. Tudo que queria naquele momento é que seus avós ou sua mãe viessem se encontrar com ele. Era o menino que tinha idade e direito de se sentir doente. Chorei quando a tutora de canto dá uma dura nele, como se falasse com um homem de 40 anos. Doeu ver o menino ali tendo que ouvir palavras tão duras, sozinho, responsável pelo sucesso e ameaçado pela derrota. Chorei quando ele voltou para a cidade onde nasceu, no Canadá, e simplesmente encontrou os amigos que deixou por lá e, juntos, jogaram basquete. Chorei com o menino. Chorei porque sou mãe. Chorei pelo humano e não pelo mito. Para mim é assim.