Reviver a experiência de perder a mãe, devido ao falecimento da minha sogra, tem motivado minha reflexão, e a todos aqui em casa, sobre a importância da figura materna nas nossas vidas. Sei que muito se romantiza sobre essa figura; talvez por isso as mães sejam seres que, com amor ou na falta dele, têm a capacidade de nos projetar para além de nós mesmos.

Minha mãe e minha sogra eram duas presenças que, em diversos aspectos, se encontravam nas margens opostas de uma mesma dimensão. Uma contida, outra com poucos limites. Uma amava encontrar gente e conversar, a outra preferia poucos e bons amigos, os quais, fui descobrindo aos poucos, desconheciam boa parte da sua vida privada.

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Em comum, tinham a dramaticidade – talvez geracional, se pensarmos nas letras melodramáticas das músicas que embalaram suas juventudes –, o riso fácil e o amor e carinho que deram para suas famílias. Há um outro ponto em que elas se encontravam: empurravam seus filhos para além de si próprios. Nas suas falas com pessoas da família ou simples desconhecidos, nós, seus filhos, éramos colocados sempre além do que éramos ou de onde estávamos de fato. Talvez houvesse ali um pouco do desejo secreto de serem avaliadas como boas mães, mas havia, sem dúvida, muito da intenção de nos abrir caminho com suas palavras para que pudéssemos alcançar um lugar que elas imaginavam ser o melhor para nós.

Minha mãe e eu tínhamos ideias diferentes sobre meu futuro. Isso fez com que eu, quando bem jovem, durante diversos anos, a decepcionasse, de certa maneira. Hoje, mais velha, consigo compreender claramente que o lugar aonde eu queria chegar ela não conseguia enxergar, e o medo de eu me machucasse a levava a querer que eu desistisse. Com o tempo, esse sentimento mudou e, quando ela viu que eu estava num bom caminho e feliz, novamente, suas palavras expressavam uma mulher maior do que eu era.

Devo confessar que durante muito tempo esse comportamento me incomodou. Não só na minha mãe como em quase todas as mães que conhecia ao meu redor, por considerá-lo ilusão; porém, ao refletir sobre minha sogra com meu marido, ficou tão claro o poder dessa fala materna – e seu consequente perigo quando ela não vem do amor. É mais do que um voto de confiança, do que uma permissão de ir; é como o halo que circunda o sol ou a lua de vez em quando, tornando-os mais vibrantes no céu. É a potencialidade de uma promessa que nos obriga a ir além dos nossos medos, guiados pela segurança desse espaço criado pela força da voz materna.

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A promessa do nosso futuro à qual me refiro não é um lugar específico – quando o é, pode haver, mesmo em nome do amor, o desejo de controlar o destino e a escolha do filho. A promessa é explorar e usar toda a nossa capacidade de sermos plenos. De sermos completos. De sermos íntegros na nossa natureza.

Como manter essa voz viva quando ela se vai? Vivendo essa promessa. Tornando-a o mais real possível. Nos tornarmos esse desejo realizado é uma forma de agradecer, honrar e manter viva a presença de nossas mães. Nos somos o fluxo da intenção que elas projetaram; seguindo e escolhendo nossos próprios destinos mas, fortalecidos na promessa que sempre existiu nas palavras de nossas mães.