Após algumas semanas em pausa me vejo no prazeroso e ao mesmo tempo desafiador momento de escolher com qual tema começar o ano. As pausas nos permitem com maior morosidade divagar sobre certos assuntos. A aproximação da virada do ano nos traz, quase que inevitavelmente, um pensar sobre o nosso futuro.
É o tempo dos desejos. Das avaliações. É o tempo das promessas e dos comprometimentos. Interessante que ao mesmo tempo que nos permitimos relaxar, liberar e abrir mão das dietas, das ordens e das disciplinas, também nos colocamos num estado de atenção para aquilo que desejamos para nós.
Refletindo sobre isso pensei, no que gostaria de desejar para quem ler este texto. Meu primeiro desejo é de muitas alegrias e plenitude, porque pessoas felizes, costumam ser pessoas melhores. Melhores vizinhos, melhores amigos, melhores chefes, melhores colegas. O microcosmo fica melhor com pessoas realmente felizes ao nosso redor. O segundo desejo é saúde e paz de espírito, embora acredite que ambos tenham conexão, nem sempre andam juntos. O terceiro desejo é prosperidade na medida justa. Os extremos tendem a ser nocivos para a alma, embora, claro, existam lindas exceções para comprovar a ideia. E o quarto desejo da minha curta lista, considero, talvez o meu maior desejo para todos nós: tenhamos mais dever na nossa vida.
Um dever que seja compreendido como amadurecimento e plenitude. Um dever que seja visto com parte da própria vida e não como um peso ou um castigo. Penso que muito do imaginário sobre felicidade que construímos até agora, está embasado na ideia de uma vida com pouco dever. Passamos a vida cumprindo deveres com o sentimento, mesmo que pequeno, de injustiça. Como se a vida nos devesse algo. E por conta dessa dívida, criamos o imaginário que a vida, para ser boa e prazerosa, precisa ter pouco dever. Há algo de infantil nesse conceito. E se olharmos com lucidez ao nosso redor, poderemos ver que o mundo, a vida, a nossa vida, está precisando de mais dever. De mais responsabilidade. De mais maturidade.
Quando assumimos a vida com maturidade, o dever deixa de ser frustração. Deixa de ser um peso, deixa de ser chato. Passa a ser natural. Passa a fazer parte da nossa existência, como a distração, como se alimentar. Passa a dar prazer. Passa a nos deixar felizes. Assim nosso conceito de prazer e felicidade se expande, trazendo outras nuances. Tornando nossa vida mais rica e diversa.
Num período de recomeços, num ano eleitoral, ainda vivendo as ondas do tsunami político e econômico que ajudamos ao criar como cidadãos, começo o ano neste espaço, desejando a todos nós mais felizes deveres nas nossas vidas.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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