Levantando dados para nutrir o Projeto Uno, projeto que alimenta os conhecimentos da behavior e deste blog, um dado me chocou: o suicídio é a principal motivo de morte dos homens abaixo de 45 anos na Inglaterra e nos Estados Unidos. Mais: o número de suicídios de homens é quase quatro vezes maior que a de mulheres nesses dois países. Desse grupo de suicidas, nos Estados Unidos, a maioria pertence à raça branca. Descartando assim a ideia de minoria que não encontrou seu lugar no mundo.
Em 2011 quando fiz o Projeto Homens, notei o surgimento do Movimento Humano O Homem Sensível como caminho para reconstruir a autoestima. Autoestima masculina bastante abalada pela mudança no sistema de poder do qual foram centro por séculos e estava, como nunca, ameaçado. Lembro que me chamou a atenção na época que aqueles que optavam pelo caminho do Homem Sensível, não queriam mais o velho poder, o Poder Sobre como chamo. Assim a luta não era pela volta ao poder e sim por encontrar uma nova forma de ser homem.
Obviamente havia o grupo de homens ressentidos com a mudança no sistema de poder, que se apresentavam raivosamente acuados. Esperando o momento de dar o bote novamente. Como vimos neste triste ano de agressividade exposta, acredito que o “discurso da testosterona”, foi a voz desses homens que saíram das sombras sentindo-se protegido pelo ambiente político. Pelo que vi nos meus estudos, apesar do dano moral que causam, eram a minoria. A maioria queria mesmo uma nova forma de exercício da masculinidade.
O perigo que compreendi ao longo desses anos de estudos é a necessidade masculina de um lugar de privilégio social. Vamos deixar claro que o lugar de privilégio mexe com a identidade de todos. No caso dos homens em particular, ela precisa ser ostensiva para ter valor. Além de ser histórico ainda hoje é muito alimentado por homens e mulheres. Especialmente mães. Parece que o homem sempre espera um lugar de destaque. De atenção especial. Seja qual for o ambiente em que circule, para se sentir mais homem. E, como tudo faz parte de um sistema só: muita mulher se sente mais mulher oferecendo esse lugar de privilégio.
Quando O Homem Sensível tomou corpo alguns anos depois e virou campanha publicitária, papo cabeça de programas de televisão, tema de artigos e estudos, meu feeling me dizia que o caldo ia entornar. Sem querer, estávamos dando palco a quem ainda se ressentia pela perda das luzes encima dele. Virar super paizão e homem romântico & companheiro, se genuíno em cada vez mais homens, para muitos estava se transformando numa forma de chamar a atenção para si. Voltar a ser reconhecido por algo de valor social que lhes dava a chance de assumir o lugar de privilégio.
Suspirando e admirando, as mulheres iam se desdobrando em elogios como se esses homens estivessem sendo mais daquilo que deveriam ter sido sempre: homes assumindo a responsabilidade de ser pais e parceiros na vida e no amor. A sensibilidade, ainda nascendo e com pouca prática, em alguns casos se tornou motivo – talvez pretexto? – para não assumir mais responsabilidades. Encarar a vida de frente de forma madura. Acredito que em algum momento, nos perdemos entre sensibilidade e fraqueza. A fraqueza não alimenta em nada a autoestima de alguém.
Precisamos, urgente, aprender que sensibilidade tem força, vitalidade e firmeza. É na vulnerabilidade que seguramos a nossa verdade e isso nos dá poder. O novo poder, o Poder Para que regerá, mesmo que tenhamos alguns retrocessos, o tempo futuro. Precisamos distinguir o que é sensibilidade de fraqueza. E, a partir dali, entender que muitas vezes, a fraqueza masculina mais do que uma autoestima abalada, pode esconder um menino mimado, acuado, fazendo birra para não quer crescer.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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