Dando seguimento às reflexões sobre por que as mulheres não sobem ou não desejam subir ao topo da hierarquia corporativa, vou trazer um tema que talvez seja polêmico, mas que, no meu entendimento, influencia bastante o movimento de desistência, por parte das mulheres, ao novo mundo que é a Alta Direção Corporativa: a crença de que nós, mulheres, somos menores (para esse lugar).
Nós, vivemos nos convencendo de que somos fortes, corajosas e lutadoras. E, na minha opinião, de forma geral, somos. Também muitas de nós acreditam que em vários aspectos da vida cotidiana são melhores do que os homens. Sentem-se, inclusive superiores.
Só que essa autoavaliação se modifica quando começamos a analisar nossa atuação dentro do mundo corporativo. Boa parte das mulheres, consciente ou inconscientemente, pensam que são menores do que os homens para ocupar os altos cargos de gestão. Toda a sua segurança se vê comprometida quando olham para esse lugar, quase sagrado, que é a Alta Direção.
Antes que me critiquem, vamos discutir o conceito de “menores”. Podemos pensar que estamos em desvantagem perante os homens dentro do mundo corporativo se olharmos para a experiência. Ainda podemos nos considerar novatas nesse espaço. Inexperientes. Desperaparadas e até desajeitadas. São aspectos reais que levam muitas mulheres se sintam menores. Muito em parte porque os lugares de máximo poder dentro do mundo corporativo, ainda nos assustam.
Por causa desse sentimento de inferioridade em relação ao preparo, queremos mais tempo para ganhar experiência e conhecimento, recusando promoções e sondagens para subir na hierarquia. Algo que poucos homens fariam. Os homens, nesse ambiente, sentem-se prontos, mesmo que não estejam.
Quando aceitamos o cargo, não é incomum querermos provar mais eficiência, responsabilidade e força de trabalho do que os homens, nossos pares. Sempre pela ótica de quem está em desvantagem. O que inevitavelmente nos leva a nos dedicar muito ao trabalho. A autocobrança sobre nossa atuação demonstra nossa insegurança. Prato cheio para quem não nos quer nesse cargo. Não é à toa que tantas mulheres chegam ao temido burnout. Não é à toa que as mais novas não queiram subir na hierarquia.
Olhando historicamente, sim, somos menos experientes. Portanto, menos preparadas culturalmente. Parece de certa forma, pouco “natural” estarmos nos altos postos corporativos – “natural” entre aspas mesmo porque discordo do conceito de naturalidade quando pensamos em talentos. Sim, precisamos aprender.
A diferença é que na nossa inexperiência real – e não cultural – somos parecidas com os homens que poderiam ocupar nossos cargos. Ninguém que nunca subiu, sabe como lidar na prática com as novas obrigações e a nova postura que o cargo exige. Mais ainda quando compreendemos que os skills necessários para os cargos de CEO, Vice-Presidente ou Diretor-Executivo são mais estratégicos e políticos do que técnicos e de força de trabalho. Do que envolver equipes e conduzi-las para o resultado ambicionado.
Eu me pergunto: por que nos desencorajamos quando se refere ao mundo corporativo? Porque não compreendemos que, como todo ser humano, é comum nos sentir indefesas num ambiente e mundo desconhecido. Por ser desconhecido costumamos considerá-lo hostil. Não muito diferente do que percebo nos homens no exercício de seu novo papel masculino fora do ambiente corporativo.
Por que não podemos ir aprendendo à medida que realizamos ou ocupamos esses cargos – como fizemos em tantos outros territórios? Mais ainda se pensamos que, hoje em dia, contamos com a sororidade que vem crescendo entre as mulheres, com consultorias de altíssimo nível e suas ferramentas de Coaching e Mentoring. Contamos com grupos de mulheres executivas que trocam ideias e conselhos – suportes que os homens desenvolveram há séculos com suas famosas irmandades.
Sabemos que homens e mulheres irão nos criticar e nos julgar com pesos e medidas diferentes daqueles usados para julgar um homem. Sabemos que nossos pares, especialmente se forem homens, não tornarão as coisas mais fáceis. Então por que subir?
Se o salário, benefícios, status do cargo e o poder não encantam, devemos talvez pensar no prazer que esse novo desafio poderá trazer. Devemos pensar na importância social que significa ter mais mulheres em cargos da Alta Direção. Pensar na abertura de caminho que fazemos para a próxima geração e no bem social que provocamos ao distribuir o poder. Pensar nos benefícios que a diversidade de visões de mundo é capaz de promover. Afinal, não queremos todos um mundo melhor?
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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